Alex

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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Como Comungar ( Padre Paulo Ricardo )

"Durante vários anos como padre, insisti terminantemente que as pessoas comungassem na mão, porque, devido aos meus estudos, eu havia aprendido que para comungar colocamos uma mão em cima da outra fazendo uma cruz e, depois, fazemos uma concha. Assim, você faz, ao mesmo tempo, um “berço” (a manjedoura onde Jesus nasceu) e uma cruz (onde Jesus morreu). Sempre recordando que a mão esquerda tem de ficar em cima da mão direita, porque a mão direita tem de estar livre para você pegar a hóstia e colocá-la na boca. A mão deve estar na altura do peito, estendida na direção do padre.
Por muito tempo fiquei incomodado ao ver os seminaristas comungando na boca, mas sabia que eles tinham o direito de fazer isso. No entanto, sempre tentava fazê-los receber a Eucaristia na mão. Tudo isso era o que eu lutava e cria até pouco tempo atrás. Mas o papa Bento XVI me deu uma “rasteira”.
O Papa começou a dar a comunhão, na liturgia papal, para os fiéis de joelhos e na boca. Confesso que fiquei chocado com aquilo. Então, fui estudar, porque quando vemos o Papa tomar uma atitude, alguma razão ele deve ter.

Foi aí que descobri foi que a comunhão na mão (algo permitido canonicamente) é uma exceção, ou seja, para a lei canônica a forma comum de se comungar é na boca. Então, precisamos ficar com essa verdade. Estudando, descobri que não existe nunhuma referência de comunhão na mão, isso por que, nos países do Norte da Europa, as pessoas começaram a receber a comunhão na mão por desobediência, por rebeldia. O Vaticano tentou corrigi-los, mas não conseguiu e autorizou as conferências episcopais para, se achar oportuno, pedir autorização para a comungar na mão. Mas por que, Bento XVI está agora, dando a comunhão na boca e de joelhos? O Papa está fazendo isso porque ele acredita que nós estamos correndo um risco muito grande de perder a devoção e a fé na Eucaristia, pois, infelizmente, em algumas igrejas, a presença de Jesus Eucarístico está se tornando uma piada.

Padres estão comentendo atos com a Eucaristia que é o caso de passarmos a noite adorando em desagravo a Jesus Eucarístico. Um exemplo é a situação de um sacerdote que, ao dirigir, tinha umas hóstias jogadas no banco de trás do carro. Questionado por alguém a quem ele havia dado carona, do porquê daquilo, o padre argumentou que aquilo era circunstancial, pois, segundo ele, Jesus só estava presente na Eucarstia durante a celebração da Missa; depois, já não está mais lá. Isso é um sacrilégio que não tem nome.

Diante disso, entendemos porque as pessoas vão perdendo a devoção na Eucaristia. Aos poucos a presença de Jesus Eucarístico está sendo perdida.

Portanto, eu padre Paulo, durante muito tempo, não gostei dessa história de comunhão na boca por causa de um arqueologismo. Porém, o Papa está dando um exemplo. Mas ele não quer que todos, de repente, comecem a comungar de joelhos e na boca. Ele quer pôr um movimento em ação, quer dar o exemplo para que, sem decretar nenhuma lei ou sem enfrentar divisões, comecemos a comungar na boca e de joelhos.

Essa atitude é você quem vai analisar, ter a prudência de ver qual é a situação da sua paróquia, do seu padre e do seu bispo, pois pode ser que eles ainda não saibam disso. Eu mesmo levei tempo para descobrir que comunhão na boca é o normal. Levei tempo para achar normal um fiel comungar de joelhos. Então, meus irmãos, com muito amor a Cristo e à Sua Igreja, vamos olhar para o exemplo do Papa e fazer um exame de consciência para saber como está nosso respeito por Cristo presente na Eucaristia."


http://www.rainhamaria.com.br/Pagina/8299/Padre-Paulo-Ricardo-Como-Comungar

terça-feira, 22 de maio de 2012

Convite Encontro Vocacional

Prezados (as) Jovens e Animadores Vocacionais.


A vocação é fruto do Encontro com Jesus Cristo. Desse encontro nasce a correspondência amorosa. Corresponder é sentir-se conquistado (a) por alguém. Esse alguém, para nós cristãos (ãs), é Jesus de Nazaré, o Cristo da nossa fé.
A vocação é correspondência ao Dom que vem ao nosso Encontro, o qual transformamos em Doação. Entretanto, é preciso descobrir a maneira pela qual o Senhor nos convida a doar-se. Não descobrimos de qualquer jeito, mas sob o impulso do Espírito Santo, pela Escuta da Palavra de Deus e pela vida em oração.
Na intimidade com o Senhor, Ele nos fala em nossa intimidade. Por isso, venho através desta, convidar você para participar de um momento especial: Encontro Vocacional Diocesano.
• 09/06/2012 às 15:00 hs – Encontro Vocacional Masculino – Escola Vocacional (Trazer: Bíblia, materiais de anotações, roupa de cama e banho, higiene pessoal).
• 10/06/2012 às 08:00 hs – Encontro Vocacional Feminino – Escola Vocacional
• 10/06/2012 ás 08:00 hs – Encontro com os Agentes da Pastoral Vocacional – Escola Vocacional
Obs: Todos os encontros terminam no dia 10/06/2012 com a missa às 14:00 hs...
Venha Participar!!! O Senhor deseja falar bem de perto ao seu coração!



Pe. Valdair Aparecido Rodrigues
Coord. Diocesano do PV-SAV – Jales/SP.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A VISIBILIDADE DA IGREJA

Gustavo Corção 1. Vamos hoje nos deter na palavra visível de nossa primeira e aproximada definição da Igreja, isto é, vamos explorar mais em profundidade o conteúdo daquele termo, como se nele aplicássemos uma lente que não só amplia como também revela a riqueza de detalhes, de conseqüências e de aplicações que nos havia escapado em nossa primeira aproximação. Antes de mais nada convém notar que o termo visível é aqui usado com a significação mais ampla de sensível, isto é, daquilo que nos é acessível pelos sentidos. Como a visão é o mais nobre dos sentidos, nós usamos a palavra visível para indicar o que se vê, o que se ouve, e de um modo geral toda a ordem do sensível. Dizendo que a Igreja é visível nós queremos significar que ela tem para nós, desde a cruz que vemos no alto da torre até o "Eu te absolvo..." que ouvimos no confessionário, a nitidez corpórea da pedra ou do pão. Gravemos pois esse mais amplo sentido que damos do vocábulo, e empreendamos a sua progressiva sondagem. 2. Logo no primeiro exame do conceito nós encontramos a óbvia visibilidade que nós mesmos damos à Igreja pelo fato de sermos seus membros. A Igreja é visível em nós, de uma visibilidade humana. Em nós, e nas obras de nossas mãos; em nossos rostos, e nas torres das catedrais; em tudo isto, em suma, que se vê de longe, e que fere a atenção dos mais desatentos, a Igreja é visível de uma primeira e ainda superficial visibilidade.. Parece pouca coisa esse primeiro e tão fácil exame de conceito, mas devemos notar que é já neste nível da significação que se inicia o ataque à Igreja de Deus. Os pseudo-super-espirituais começam por solapar esse primeiro contato da Igreja com a humanidade do homem. Quereriam uma Igreja mais despegada da terra, e menos carregada da miséria de seus filhos. Nós vimos, nas lições anteriores, que entre os membros atuais do Corpo Místico contam-se justos e pecadores. Pecadores de pecado mortal, desde que não cheguem à heresia, à excomunhão e à apostasia, são ainda membros atuais do Cristo, membros mortos mas ainda presos à videira. São inúmeras as passagens das Escrituras em que está assinalado este caráter misto, transitório, peregrino da Igreja. A parábola do joio e do trigo (Mt 3, 2); o banquete nupcial em que se sentam bons e maus antes da chegada do Senhor (Mt 32, 2); as dez virgens que esperam, cinco prudentes e cinco loucas (Mt 25, 1); e tantas outras passagens nos falam do Reino, da Igreja, como de um regime de espera em que, por assim dizer, a paciência do Cristo se estica por séculos e séculos, até o dia da grande e decisiva separação. Se a Igreja fosse constituída somente de membros perfeitos, santos, justos (em estado de graça) como pretendem os pseudo-super-espirituais, nós não saberíamos encontrá-la, pois só Deus sabe quem está em pecado. Ela seria invisível. Ou seria enganadora, a nos induzir perfidamente em erro, em vez de nos oferecer a garantia de uma realidade acessível aos nossos passos. Nós já dissemos que a Igreja é o Cristo continuado; já mostramos que sua função instrumental é um prolongamento da instrumentalidade salvadora da humanidade de Cristo; e nessa perspectiva nós diríamos agora que a Igreja invisível dos super-espirituais seria uma magnífica inutilidade. Antes da Reforma já os novacianos e donatistas queriam que os pecadores não pertencessem à Igreja, mas foram sempre refutados pelos detentores da tradição. Dizia assim Santo Agostinho: "Home sum in area Christi: palea, si malus; granum, si bonus". [1] São Jerônimo também comparava a Igreja à Arca de Noé, onde se misturavam o lobo e o cordeiro. [2] Será preciso recordar que a Igreja tem partes invisíveis? Sua alma é invisível. A Igreja triunfante é também invisível. Mas tomada no seu todo, em sua realidade completa, basta que uma parte seja visível para que se possa dizer que é visível o todo, embora não totalmente visível. No homem também a alma, considerada em separado, é invisível; mas o homem todo é visível, visível pelo seu corpo, sem dúvida, mas visível no seu todo vivo e animado. 3. Mas não é somente dessa primeira visibilidade, encontrada nos seus membros, que nós dizemos ser visível a Igreja. É do Homem-Deus, do Verbo Encarnado, que a Igreja tira a sua feição, seus contornos, sua vida, e sua natureza divino-humana; e é dessa visibilidade enquanto divina que devemos nos ocupar agora. Essa é propriamente a visibilidade essencial da Igreja, e é dessa marca essencial, sinal de realidades divinas, que nos fala a encíclica de Pio XII, Mystici Corporis Christi. [3] E é também a esse caráter de sinal visível de coisas invisíveis que se refere o Concílio do Vaticano quando ensina que a Igreja é permanentemente um milagre. Ninguém pretende, evidentemente, que o sobrenatural, que especifica essa sociedade fundada por Cristo, seja em si mesmo visível. O que dizemos todos, em obediência ao magistério, é que a invisível realidade divina fere os nossos olhos e os nossos ouvidos através da Igreja. Dissemos que a Igreja segue o estilo da Encarnação. A rigor, pensando numa Igreja antes da Igreja, na expressão do Pe. Sertillange [4], nós poderíamos dizer que Deus, antes da Encarnação, fiel ao seu plano polarizado na pessoa do Cristo Jesus, já se manifestara aos homens de um modo sensível. A voz dos profetas, por exemplo, já era um sinal sensível, já era um prenúncio da Igreja do Verbo Encarnado; já era, na obscuridade da expectativa, um rumor de preparativos e um albor de madrugada. Mas o característico desses tempos de advento, que a Igreja rememora hoje calando a música e paramentando-se com a cor das sombras, era sem dúvida uma certa obscuridade. A voz do profeta ecoava na noite dos caminhos — "Ouve! Ouve, Israel!" — buscando mais o ouvido do que a visão. Os sinais de Deus eram velados, abafados, escondidos. Vejam agora o que acontece no mundo quando nasce em Belém o filho de Maria; e observem bem o que dizem os pastores, quando ouviram dos anjos a boa nova: "Vamos até Belém, e vejamos o que sucedeu e que o Senhor nos mostrou. E foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado numa manjedoura. E vendo isto compreenderam as palavras que lhes tinham dito sobre o menino. E todos os que ouviram se admiraram do que lhes diziam os pastores. Maria, entretanto, guardava essas palavras, meditando-as no seu coração. E os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus, por tudo o que tinham ouvido e visto, conforme ao que lhes tinha sido anunciado." (Lc 2, 15, 20) Notem primeiro a desembaraçada decisão dos pastores: "Vamos até Belém". Eles têm um endereço, um lugar aonde ir, como nós hoje temos a direção, o itinerário de nossa paróquia. Eles já têm o caminho certo, o lugar preciso, a solução exata para os pés, antes de tê-la completa para o coração. Creio que foi um personagem de Dostoievski que dizia em certa altura de suas aflições: "Haverá para o homem coisa pior do que não ter aonde ir". E tinha razão. O drama do mundo é o da perda do antigo endereço: Mas os pastores o tinham. Vamos a Belém. E vejamos. E vendo, compreenderam. E compreendendo, voltaram glorificando e louvando. Na liturgia de Natal, especialmente na 2a. Missa que acompanha o amanhecer, a palavra luz e seus derivados todos tomam conta do texto. O Natal é uma iluminação do mundo. A Encarnação traz para o mundo um novo regime de mais luz, como queria Goethe no seu leito de morte. Ouçam por exemplo o velho Simeão, quando teve a ventura de segurar nos seus cansados braços o menino Jesus: "Agora, Senhor, despedi em paz o vosso servo, segundo a vossa palavra; porque os meus olhos viram a salvação..." Pensemos agora na cruz espetada no alto do monte. A luz está no seu elevado candeeiro. A cidade santa se estabelece no alto do monte, porque os seus cidadãos são a luz do mundo. "Vós sois a luz do mundo... e assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está no céu". (Mt 5, 14) Em Pentecostes a Igreja nascida da Cruz manifesta seu maior esplendor, e recebe do Espírito um decisivo impulso para sua missão. Sopra o vento, descem línguas de fogo, e as vozes dos apóstolos se multiplicam pelos diversos idiomas, tudo mostrando, com profusão, a força visível do invisível Consolador. A Igreja cresce, diferencia-se, hierarquiza-se, realizando nessa diversidade impetuosa o desdobramento das graças que estavam em plenitude na pessoa única do Cristo. Aplica-se aqui um grande princípio: a plenitude de perfeição, que em Deus se encontra na suma simplicidade, nas criaturas se manifesta na diversidade. A unidade pessoal do Cristo corresponde agora na Igreja uma diversidade de pessoas, de grupos, de ordens religiosas, paróquias, associações, tudo isso vinculado numa unidade assegurada pelo Espírito de Cristo. Ao contrário do que diziam os autores super-espirituais que chegaram a perturbar a grande Teresa d'Ávila, e que pretendiam ver na Ascensão de Cristo, e na descida do Espírito, uma manobra de Deus para nos livrar da visibilidade do seu Corpo, nós podemos dizer sem receio que Nosso Senhor se tornou ainda mais visível no seu Corpo Místico espalhado pelo mundo. A Igreja é de fato o alastramento universal do Salvador. O sangue derramado é agora estendido, e tinge o mundo inteiro numa prodigiosa iluminura. E a Igreja cresce, como cresce o dia, de "claridade em claridade". 4. Os protestantes, sob esse ponto de vista, cometeram o erro de quem se obstinasse a andar às apalpadelas numa sala sombria por não ter percebido que o sol já nasceu. Persistem na obscuridade adventista, num sinistro equívoco, e dizem de nós que somos idólatras, porque usamos estátuas, estampas, vitrais e iluminuras, como se o uso de imagens implicasse necessariamente a sua adoração. Eles não sabem, ao que parece, que o Salvador trouxe a luz do mundo, e a unção dos olhos e dos ouvidos. E chegam a esquecer apesar do seu propósito de remontar às fontes — que é sempre suspeito na vida do cristianismo — que os primeiros cristãos usaram símbolos, alegorias, pinturas, mosaicos, sem que passasse pelo espírito de ninguém que estivessem adorando objetos. Eles sabiam bem o que era e o que não era idolatria, porque faziam com o próprio sangue a teológica distinção. Mas essa idéia de super-espiritualizar (que vem sempre acompanhada, inevitavelmente, de uma atitude contrária de super-animalidade, quando se relaxa a artificial tensão) não foram só os protestantes que tiveram. Falei há pouco de Santa Teresa d'Ávila. No capítulo XXII de sua história está relatada a pista falsa a que foi levada por uns iluminados doutores. Diziam eles que num certo ponto do progresso espiritual é preciso deixar para trás tudo o que é visível e corpóreo. É preciso — diziam — deixar para trás, superada, a própria humanidade de Cristo, para considerar somente a sua divindade. Descobriu a Santa a perfídia de tal doutrina, e lá nos conta que sente um horror todas as vezes que se lembra de tão funesta experiência. E nós, que estamos por demais advertidos, saibamos que nunca, em grau nenhum da vida espiritual, por motivo algum, devemos acolher tal idéia. Se nós deixarmos para trás, como etapa vencida, a humanidade do Cristo, ou a visibilidade da Igreja, é a nossa própria salvação que estamos deixando para trás. 5. Será preciso, neste estudo de hoje, advertir do erro contrário? Correndo o risco de parecer que estamos fazendo uma antítese, diremos que o erro contrário consiste na supervalorização do visível, a qual é uma das características do mundo moderno. No caso que aqui nos interessa, e que se relaciona com o mistério da Igreja, essa supervalorização consistiria em esquecer que o visível é apenas um sinal do invisível; e conseqüentemente em depreciar a vida interior chamando-a de subjetivismo individualista. Tais extremidades nos levariam a sermos um povo de gesticulantes. É claro que nós não podemos, sem radical infidelidade ao magistério da Igreja, chegar a tais extremos, mas podemos perfeitamente, como no caso inverso aconteceu com uma grande santa, cair na inclinação, na tendência, que sem chegar à heresia já seria um grande desperdício de valores espirituais. O equilíbrio que a Igreja nos propõe é uma exaltação dos dois elementos que não podem ser tomados isoladamente; mas aí mesmo, nessa mesma exaltação, convém firmar que o primado cabe sempre ao espiritual, significado pelo sensível. 6. Todos nós sabemos que infelizmente há muitas pessoas que só prezam as aparências. Vivem para a roupa, para o automóvel, para o trem de vida exterior, numa constante preocupação do juízo e da opinião dos outros. Vivem como se a alma estivesse na pele; ou como se dependesse do olhar dos outros a própria subsistência. Vivem em suma só para o mundo no sentido que tem essa palavra quando dizemos que o mundo é nosso inimigo. Falaremos mais tarde desse fenômeno, e da importância que tem ele para a nossa salvação. No momento queremos apenas assinalar a reação que essa repulsiva mentalidade produz em nós: o desprezo pelas aparências. Vítimas de tal impulso nós temos freqüentemente o desejo de menosprezar o juízo e a opinião alheia, reduzindo todos os critérios ao do foro íntimo e da perfeita sinceridade. Se por exemplo eu sou visto em companhia suspeita e em equívoca situação, que me importa o que dizem os outros, uma vez que tenho em paz a consciência? Estará certa essa atitude? Estará ela afinada com a feição de nossa Igreja? Em primeiro lugar, colocando o problema no plano da moral, nós podemos ver facilmente que essa maneira de pensar ofende a justiça, e destrói a sociabilidade. Não é possível viver em sociedade com esse critério exclusivo do foro íntimo. E o que ofende a sociabilidade ofende a própria natureza humana. Não é aos outros que nós molestamos com esse culto da orgulhosa sinceridade, é a nós mesmos. Seria fácil demonstrar que tal tipo de sinceridade, que não cresce no sentido da humildade e da justiça, transforma-se pouco a pouco na pior das hipocrisias: a hipocrisia do sujeito que é convictamente e sinceramente hipócrita por ter descoberto, no seu foro íntimo, esse direito à hipocrisia. Mas não é essa a posição do problema que hoje nos interessa, apesar de sua importância. O que nos interessa agora é saber se tal atitude afina com o sentimento da Igreja. Ora, pelo que já vimos até agora, e pelo que ainda vamos dizer, a nossa Igreja nos ensina a prezar as aparências. Para pertencer plenamente a essa divina sociedade não nos basta ter a fé no coração, precisamos tê-la também na boca, como nos ensina o apóstolo. Não é pois nesse sentido de deixar para trás as aparências que nós devemos progredir, e sim no sentido de manter sempre harmoniosa a hierarquia de nossos critérios. Não é preciso desprezar o corpo para servir a alma. Se a rigorosa ascese de muitos de nossos santos nos induz à falsa idéia de uma repugnância pelas coisas do corpo, é justamente — vejam o paradoxo! — porque estamos apreciando esse fenômeno de ascese mais pela aparência do que pela sua interioridade. O asceta às vezes maltrata a sua parte visível, mas só é verdadeiramente cristão esse ascetismo quando o rigor vem dum amor e d um amor que inclusive se interessa pelo sensível. A esse respeito lembro um exemplo que já lhes dei. Suponhamos que um habitante de Marte (ou então um distraído filósofo) caísse por acaso numa estância do Far-West em dias de pionagem e de alegres cavalhadas. Veria os corajosos moços com esporas e chicotes a maltratar os cavalos. E concluiria apressadamente o seguinte: essa gente não gosta de cavalo. Ora, ele tinha caído justamente no lugar em que mais se gosta de cavalo! O problema não cabe todo, evidentemente, nessa pequena digressão. Voltaremos a ele um dia, se Deus quiser. No momento basta-nos consolidar essa idéia de que a Igreja preza as aparências, e nos ensina insistentemente a respeitar, a estimar os sinais visíveis, porque é nessa linha, e com esse estilo, que ela nos traz a nossa invisível salvação. 7. E assim sendo, já não admira que o cristianismo tenha trazido, com a estima do visível, o esplendor do visível que é a beleza. A arte cristã, realmente, vitalmente cristã, é a conseqüência lógica da visibilidade da Igreja. Mas aqui devemos ponderar um pouco, e fazer uma distinção que me parece necessária. Na arte-arte, para não dizer arte pura, o objeto tem caráter de fim. A operação do artista termina no objeto, que é em si mesmo completo e autônomo. O fazer artístico é mesmo uma das operações em que o homem mais se sente satisfeito por causa da proximidade e da inteireza do fim atingido. Na arte cristã nós distinguiríamos entre arte cristã, enquanto culturalmente cristã; e arte cristã, enquanto religiosa. A primeira pertence mais à cristandade do que à Igreja. A segunda é a arte propriamente religiosa, e é essa que está diretamente ligada à visibilidade da Igreja. Ora, se ela é um esplendor da visibilidade da Igreja, então ela participa também do caráter de instrumentalidade. Já não termina no objeto. Já não é por si mesmo autônomo e completo o seu objeto. Tal arte, religiosa, eclesiástica, será necessariamente sub-alternada, ancilar, e portanto deverá ser usada de um modo mais diáfano, humilde, diria mesmo subalterno, sem que isso signifique uma redução do seu esplendor. Nesse sentido, uma vez que a visibilidade da Igreja tem o caráter de sinal, nós não podemos julgar com o mesmo critério cultural os objetos que se aproximam do culto, sobretudo quando se cava um abismo entre a civilização e a Igreja, como é infelizmente o nosso caso atual. Uma Igreja feita por um grande artista, se aos fiéis não parece Igreja não é uma boa obra de arte religiosa, não importando agora verificar de quem é a culpa de tal divórcio. Se ele existe, entre a cultura e a arte religiosa, é preciso corrigi-lo; mas antes disso não se pode impor aos fiéis desprevenidos uma conquista audaciosa da arte leiga. O erro oposto que se pode cometer nesse problema da arte religiosa é o de exaltar, no sentido de um simbolismo exagerado, o caráter instrumental do objeto. Pretenderão trazer para fora, para a superfície do objeto, as realidade escondidas e significadas, o que se consegue é apenas uma arte esquelética e miserável. A solução do problema da arte propriamente religiosa está presa à solução do conflito que infelizmente existe entre o cristianismo e a cristandade de nossos tempos. 8. Depois dessas digressões, que fizemos para ilustrar com aplicações a idéia da visibilidade da Igreja, voltemos ao centro da questão. Perguntamos agora: como poderia a Igreja de Cristo ensinar e governar para santificar, se fosse invisível? A resposta protestante é muito fácil: nós não precisamos de um magistério vivo; nem de um chefe visível. O resultado dessa tentativa, que consideraríamos cômico, se não tivesse sido trágico, foi o que facilmente se pode prever. A doutrina, a jóia que o Cristo confiou à sua Esposa, será entregue ao chamado livre exame; a fé é subordinada à opinião. Quanto ao governo, como sempre é preciso algum, incumbem-se dele os príncipes do mundo; e temos então um césar como papa. Analisemos aqui um pouco mais o problema da doutrina. Temos um depósito, um dado revelado, que para nós é constituído pela Tradição e pelas Escrituras. Agora consideremos a situação de cada um de nós em relação a esse depósito. Fomos nós que recebemos a revelação de modo imediato? Evidentemente não. Há então, de fato, um intervalo entre nós e o tesouro sobrenatural. Dizemos que a Revelação para nós é mediata, e como tal exige um condicionamento. Uma coisa é o objeto da fé considerado em si mesmo; e outro é a fé em nós. Em si mesmo, o objeto da fé é a revelação divina enquanto puramente divina; e nenhuma composição de criatura poderá entrar no essencial da fé divina. Nós já abordamos esse problema quando analisamos o primeiro vocábulo do Símbolo dos Apóstolos: "Creio". Convém voltar ao problema. Nós vimos que o primeiro enunciado de nosso Credo seria assim: "Eu creio em ............ porque Deus revelou". Os diversos artigos são o corpo do Credo; ma a alma é a fé na revelação divina. Considerada assim a fé na sua essência, ela é puramente divina e sem nenhuma interposição. "Nihil aliud quam Veritas Prima" diz-nos Santo Tomás. "No objeto formal, no essencial da fé, não pode entrar nada de criado, nenhuma composição de criatura, nada por conseguinte que venha dos anjos, nem dos homens, nem dos patriarcas, dos profetas, dos apóstolos, nem mesmo da Igreja". [5] Quando porém se encara o problema da fé em nós, uma vez que não existe revelação imediata para cada um, torna-se mister um intermediário que, sem entrar propriamente na constituição formal do objeto da fé, é para nós uma condição sine qua non. E esse é o papel do magistério vivo da Igreja. E é por isso que agora nós dizemos assim: "Creio em ........... porque Deus revelou e porque a Santa Madre Igreja ensina". Sendo que no primeiro porque está o formal (o essencial) da fé; e no segundo a condição sine qua non. Vamos mais tarde abordar com mais detalhes o problema do magistério vivo e infalível da Igreja. No momento basta-nos sentir vivamente a necessidade do organismo protetor e distribuidor da palavra de Deus; e basta-nos compreender quão absurda é a idéia de entregar o depósito à pura razão humana, ou pretende que cada um de nós tenha uma especial inspiração que seria equivalente a uma revelação imediata para cada um. Mas o que tem isso a ver com visibilidade? O bom senso logo responde: se existe um zeloso e assistido magistério vivo, incumbido da conservação e da distribuição da doutrina, é evidente que eu preciso conhecer o endereço desse magistério; porque se me enganar no endereço engano-me na doutrina. É preciso ter a nítida confiança dos pastores que disseram: "Vamos a Belém". O grande princípio de economia de causas é posto em cheque, desvairadamente, quando se pretende substituir uma organização, uma sociedade visível e hierárquica, por uma profusão anárquica de revelações individuais. E sobretudo — já que estamos agora falando em tom defensivo e polêmico — o que nos choca na atitude protestante é o seu esquisito modo de estimar a Bíblia. Nenhum de nós que escreve gostaria de sofrer o tratamento a que o protestante submete o Espírito Santo. Nenhum de nós se alegra de ser livremente interpretado; e podemos até dizer que o nosso mais acabrunhante sentimento vem do elogio equivocado. André Gide disse uma vez a um admirador apressado que, por favor, não o compreendesse tão facilmente. Pois bem, o Deus ciumento de sua identidade, que martela em nossos ouvidos a sua terrível definição, "Eu sou aquele que sou", e que nos recomenda insistentemente que guardemos a doutrina, é tratado como um acomodado personagem que nos dissesse com bonomia: Aqui está a minha revelação, estejam a gosto, e façam dela o que quiserem. 9. Os teólogos comparam o magistério da Igreja, como condição necessária da nossa fé, ao papel dos sentidos nas operações da inteligência. Não é com a vista e com o ouvido que o homem conhece e é capaz de apreender as realidades espirituais; mas é pela vista e pelos sentidos que o homem realiza o seu contato com o ser. Pois bem, esse condicionamento dos sentidos, necessário à inteligência humana por causa de nossa natureza dual, reaparece no plano elevado das coisas da fé. A visbilidade da Igreja, continuação da visibilidade do Verbo Encarnado, é a parte estendida entre a graça e a natureza; e quem a recusa, em termos de um irracionalismo selvagem como o de Lutero, que queria relegar a razão para as latrinas, é um inimigo do homem que pretende ser assim maior amigo de Deus. Vejam pois a importância desses problemas; e aprendamos a ver, ou a pressentir ao menos a riqueza de nexos, a amplitude de ressonâncias escondidas naquela pequenina palavra visível que se destaca de nossa pobre definição, e que agora se abre diante de nós com profundidades de abismos. 10. Mas agora perguntemos, e ainda com mais ênfase: como poderia a Igreja nos santificar, um por um, se nós não possuíssemos o seu endereço? Os pastores sabiam onde estava Belém. Nós outros sabemos onde está a nossa Igreja. Muito teremos a dizer dessa função última da Igreja, a nossa santificação, a nossa incorporação em Cristo; frisemos agora o papel da visibilidade da Igreja nesse último e decisivo encontro. Já dissemos diversas vezes que nós sabemos onde está a nossa Igreja. É bom que seja visível de longe o campanário, que o sino toque, que a porta seja bem indicada por aquelas mansas sentinelas que nos estendem a mão. É bom que as velas estejam acesas; que as imagens nos nichos nos digam que é ali mesmo a casa de nossa longa família, que o padre e o bispo se reconheçam por suas vestes e insígnias. Mas o melhor da visibilidade da Igreja está guardado para o último passo de nossa aproximação. Nos sacramentos nós temos a santa visibilidade do Cristo entre nós, continuado, disperso, esticado, distribuído. O nome técnico do sacramento é sinal sensível. Sensível porque mostra, deixando velada a realidade última, e realizando assim o duplo objetivo de nos ajudar e de nos dar uma oportunidade para o mérito da fé. Aqui, junto ao sacramento, o binômio visível-invisível, que encerra o grande mistério da Igreja, ganha um realce inaudito. A fé, que por sua própria natureza é obscura, ganha uma transluminosa obscuridade, a luz tenebrosa de que nos fala São João da Cruz. Permanece o mistério da luz escondida, mas ao menos já sabemos onde está o ponto de apoio da divina centelha. Vamos pois a Belém, e vejamos. Vamos e adoremos. Ali está, no santo sacramento do altar, o meu Deus, o meu Salvador! O olhar se demora na pequena luz distante e vazia. Ali está, oferecido, o meu Deus, o meu Salvador! Por que se esconde Ele, o bem amado, naquela pequena brancura? Eu me perco em vãs cogitações, a imaginação se cansa, o olhar se perde, a atenção se desvia; mas a Igreja visível me cerca: as velas, as imagens, os paramentos, os rostos dos outros, os perfis, os dorsos dos outros, tudo, como um rico sistema de espelhos convergentes, tudo me torna a dizer que não me enganei, que é esta a casa luminosa, e que está ali no foco visível, na imagem real, o meu Deus e o meu Salvador. Tudo me cerca, me ampara, me encoraja; e tudo me diz que siga, que prossiga, que persiga essa imensa e milagrosa procissão que marcha, pelos séculos e séculos, de claridade em claridade. 11. E agora vejamos. Terminou o nosso dia. Cessaram por hoje as nossas atividades. Mais um dia. Mais uma boa coleção de atos truncados, decepções inesperadas, aflições persistentes. Mais um dia. Vamos nos despedir desse dia dizendo adeus a uma multidão de pequeninas esperanças pisadas, e dizendo até amanhã, até logo, às velhas e familiares aflições. Pedimos perdão a Deus, reconhecendo as nossas faltas, as de hoje e as de sempre; e depois de bater no peito, e passando para os acusativos, como diz Jacques Rivière, nós tomamos uma nova atitude de coragem e de quem quase tem um direito à misericórdia de Deus e à intercessão dos Santos. "A oração é a força do homem e a fraqueza de Deus" disse Santo Agostinho. Usemos pois a arma de Jesus Cristo, e exploremos a fundo o desarmamento de Deus. Mas observem agora a oração, entre outras, que a Igreja recomenda para a despedida do dia. É feita com as mesmas palavras do velho Simeão: "... despedi em paz o vosso servo... porque os meus olhos viram a Salvação". Como se explica essa aproximação? O velho Simeão viu de fato o Salvador. Mas nós? O que foi que nós vimos? Ou estará colocada em nossa boca uma palavra inadequada ao nosso coração? Nós vimos, realmente vimos no Corpo Místico de Cristo o que viu Simeão no pequeno corpo físico do menino Jesus. Nós vimos. Na pedra da Igreja, na porta, nos irmãos, nas imagens, no sino, na vela, no altar, na hóstia. Nós vimos. E podemos dizer, com o mesmo direito, de todo o coração, que nós vimos, na Santa Visibilidade, a nossa Salvação. (A Ordem, Maio de 1951)

As imagens

Uma das controvérsias levantadas pelo protestantismo é a questão das imagens como objetos de culto. Segundo eles a utilização das imagens seria algo detestável e configuraria idolatria. Na tentativa de defesa dessa posição evocam trechos do Antigo Testamento como Êx. 20, 4 e Deut. 4, 15 s. Os versículos que precedem as passagens mencionadas, assim como todo o contexto, demonstram que a proibição da confecção de imagens era referente àquelas cultuadas idolatricamente. O povo judeu era cercado de nações pagãs que praticavam idolatria. No entanto no mesmo livro do Êxodo Deus Manda Moisés fazer dois querubins de ouro batido para colocá-los sobre a arca da aliança (Ex. 25, 18-20), Manda ainda Salomão enfeitar o templo de Jerusalém com imagens diversas (1Reis 6, 23-25 e 7, 29). A proibição portanto era restrita às imagens idolatradas, não era uma proibição de caráter absoluto, mas relativo. As imagens são representações que nos recordam as realidades nelas expressas. Desde o Antigo Testamento, com os judeus, as imagens são utilizadas. Também os primeiros cristãos que foram discípulos dos apóstolos e perseguidos até a morte pelo Império Romano faziam imagens, como se vê nas catacumbas que eram usadas como lugar de refúgio por eles (nas quais há vários afrescos). As imagens são símbolos que adornam e conferem um aspecto sagrado ao local de culto e oração. São, além disso, fortes ferramentas de evangelização. Acusam também os protestantes que nós católicos damos muita reverência às imagens. Ora, quanto mais dignas e relevantes são as representações mais zelo se deve ter por elas, assim fotos de pessoas amadas são carregadas com mais carinho e respeito que outras com imagens de pessoas desconhecidas. Na Sagrada Escritura vemos que também as imagens, cuja confecção fora ordenada por Deus, são muito estimadas e reverenciadas: “Josué disse ao povo: Santificai-vos, por que amanhã o Senhor operará no meio de vós coisas maravilhosas. Depois falou aos sacerdotes: Tomai a arca da aliança e ide adiante do povo. Eles tomaram a arca da aliança e caminharam à testa do povo” (Josué 3, 5-6). A arca da aliança que tinha querubins de ouro (imagens) era levada de maneira muito solene (como nas procissões católicas): “ Os sacerdotes que levavam a Arca da Aliança do Senhor, conservavam-se de pé sobre o leito seco do Jordão, enquanto que todo o Israel passava a pé enxuto. E ali permaneceram até que todos passassem para a outra margem” (Josué 3,17). “Josué convocou os doze homens escolhidos, um por tribo, entre os filhos de Israel. E disse-lhes: Ide adiante da Arca DO Senhor, vosso Deus, ao meio do Jordão, e cada um de vós; segundo o número das tribos de Israel, carregue uma pedra no seu ombro” (Josué 4,4-5). “Colocarás a tampa sobre a Arca e porás dentro da Arca o testemunho que eu te der. Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que estão sobre a Arca da Aliança, que te darei todas as minhas ordens para os Israelitas” (Êxodo 25,21-22). “Sete sacerdotes, tocando sete trombetas, irão adiante da arca. No sétimo dia dareis sete vezes volta à cidade, tocando os sacerdotes a trombeta”. (Josué 6,4). “Dando ao povo esta ordem: Quando virdes a arca da aliança do Senhor, vosso Deus, levada pelos sacerdotes, filhos de Levi, deixarei vosso acampamento e vos poreis em marcha, seguindo-a.” (Josué 3,3). Nenhum católico em sã consciência considera a imagem um “deusinho”, nem acha que ela seja O Criador e Senhor do Universo, nem lhe oferece sacrifícios de animais (como os pagãos idólatras) achando que ela é habitada por divindades, portanto não há por que se falar em idolatria neste caso, já que idolatria é justamente prestar um culto de adoração (latria) a uma criatura. Nós católicos consideramos o valor dos símbolos e expressamos nossa veneração pelos anjos e santos, modelos de virtude, praticando desta forma gestos de extrema admiração (culto de dulia). Assim mantemos viva a memória daqueles cujas vidas foram Santificadas por Deus, Nosso Senhor. Louvado Seja Nosso Senhor e Deus Jesus Cristo! Glória AO Pai, AO Filho e AO Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre! Diogo dos Santos Ferreira Livre cópia e difusão com menção do autor.

Pe. Pio de Pietrelcina e o Purgatório

O purgatório é um local onde ficam as almas que morrem em estado de graça, isto é, sem pecado mortal, mas que tem "penas temporais" ainda a expiar por seus pecados ou algumas imperfeições (ou pecados veniais) que não foram suficientemente purificadas, pois no céu "nada de impuro pode entrar" (Ap. 21, 27). O Purgatório é uma verdade positivamente revelada por Deus, que não admite dúvida. Disse Jesus, um dia, à multidão de povo que acabava de ouvir o sublime sermão das bem-aventuranças: "Reconcilia-te com o teu adversário… enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário de entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao ministro e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que, de modo nenhum, sairás dali, enquanto não pagares até o último ceitil" (Mt 5, 25-26). Jesus acabara de dizer que os seus discípulos deveriam ser o "sal da terra e a luz do mundo" (Mt. 5, 13), continuando a traçar as normas a seguir para evitar o inferno e chegar ao céu. "Digo-vos", diz o Mestre, "que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no céu" (Mt 5, 20). Eis o céu bem indicado. O inferno não o é menos: "Se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um de teus membros, do que todo o teu corpo seja lançado no inferno" (Mt 5, 29). Eis como, na mesma instrução (é o mesmo capítulo de S. Mateus), Nosso Senhor trata do Céu, do inferno e do purgatório; pois o texto citado refere-se claramente ao purgatório. Está no texto e no contexto que não se trata de uma simples comparação. De fato, não pode tratar-se de uma prisão imposta pela justiça humana: isto é, da autoridade policial, e o Mestre nem trata disso e nunca tratou; fala do seu reino espiritual. Aliás, o contexto mostra claramente que não se trata de uma cadeia material – pois Nosso Senhor não teria como afirmar que a pessoa não sairia dali enquanto não pagasse até o último centavo. Trata-se de uma prisão à qual Nosso Senhor tem soberania, é Ele quem manda e decide. Como não pode se tratar do inferno, visto que o inferno é eterno (Mt 25, 41), e não se trata de uma prisão material, trata-se, pois, de uma prisão temporária, onde as almas sofrem, por certo tempo, em expiação de seus pecados; onde são purgadas das faltas leves, que não merecem o inferno, mas impedem de entrar no céu. "Nada de impuro entrará no céu" (Apoc 21, 27). Outra alusão à existência do purgatório encontramos em I Cor 3, 12-15: "…Aquele, cuja obra (de ouro, prata, pedras preciosas) sobre o alicerce resistir, esse receberá a sua paga, aquele, pelo contrário, cuja obra, (de madeira, feno, ou palha), for queimada, esse há de sofrer prejuízo; ele próprio, porém, poderá salvar-se, mas como que através do fogo". Depois, temos o uso da razão. Para onde iria uma alma que não é bastante santa para ir para o céu e nem bastante santa para ir para o inferno? Ela deve ir para um local de expiação, que é o purgatório. Esse texto não é o único. Existem textos mais claros nos livros que os protestantes retiraram da Bíblia por contradizerem sua doutrina. O texto mais expressivo sobre a existência do purgatório é o do Livro II dos Macabeus (XII, 43), o qual narra como Judas Macabeu mandou oferecer um sacrifício pelos que haviam morrido na batalha, por exemplo, por expiação de seus pecados: "Judas, tendo feito uma coleta, mandou duas mil dracmas de prata a Jerusalém, para se oferecer um sacrifício pelo pecado. Obra bela e santa, inspirada pela crença na ressurreição… Santo e salutar pensamento de orar pelos mortos. Eis porque ele ofereceu um sacrifício expiatório pelos defuntos, para que fossem livres de seus pecados." Ora, ser livre de seus pecados, depois da morte, pelo sacrifício expiatório, indica claramente a existência do purgatório. O Concílio Tridentino (Sess. XXV, D.B. 983), define como verdade de fé a existência do purgatório. Entre outros testemunhas cristãs dos primeiros séculos, escreve Tertuliano: "A esposa roga pela alma de seu esposo e pede para ele refrigério, e que volte a reunir-se com ele na ressurreição; oferece sufrágios todos os dias aniversários de sua morte." (De Monogamia, 10) Penas temporais dos pecados Essa exigência (das penas temporais) é facilmente compreensível, se levarmos em conta o seguinte: quem rouba um relógio ou produz um dano pecuniário a alguém, pode pedir e receber o perdão do respectivo proprietário, mas este exigirá que a ordem anterior seja restaurada ou que o relógio volte ao seu dono. Do mesmo modo, quem difama caluniosamente o seu próximo, pode pedir e receber o perdão deste, mas fica obrigado a restaurar a honra da pessoa ofendida. Nas Sagradas Escrituras, tenhamos em vista os seguintes casos: a) Davi, culpado de homicídio e adultério, foi agraciado ao reconhecer o delito; não obstante, teve que sofrer a pena de perder o filho do adultério (cf. 2Sm 12, 13ss); b) Moisés e Aarão cederam à pouca fé em dados momentos de sua vida; por isso, foram pelo Senhor privados de entrar na Terra Prometida, embora não haja dúvida de que a culpa lhes tenha sido perdoada (cf Nm 20, 12s; 27, 12-14; Dt 34, 4s). Em outros casos, o perdão é estritamente associado a obras de expiação. Assim o profeta Joel, com a conversão do coração, exige jejum e pranto (cf Jl 2, 12); o velho Tobit ensina a seu filho que a esmola o libertará de todo pecado e da morte eterna (cf. Tb 4, 11s); algo de semelhante é anunciado por Daniel ao Rei Nabucodonosor (cf. Dn 2, 24) Esclarecimentos: 1. O purgatório não é uma segunda chance para a salvação, como afirmam os desentendidos de plantão. O julgamento do Senhor é único. É preciso entender de uma vez por todas que o purgatório é um estado que a alma já julgada e destinada ao céu, mas que precisa ser purificada, precisa passar. Muitos desentendidos citam passagens como Ef 1,7 dizendo que não existe uma segunda chance, e de fato não existe. Porém o purgatório não é uma segunda chance: Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça. (Ef 1,7 ) O Catecismo deixa bem claro que as almas no purgatório possuem a garantia da salvação eterna. Ou seja, uma vez que a alma está no purgatório, o seu destino será unicamente o céu. É apenas uma questão de tempo. 2 – A prática de oração aos mortos não foi “inventada” pela Igreja Católica, que somente a definiu, ou seja, organizou as idéias a seu respeito. Esta prática está descrita já em 2 Mc 12,46. 3 – O “fogo” no purgatório é diferente do “fogo” do inferno. É preciso entender isso com muito cuidado. O sofrimento que a alma passa no inferno é um sofrimento eterno, e portanto de tristeza e de dor. A alma que vai para o inferno nunca terá alívio. Porém o sofrimento que a alma passa no purgatório embora seja grande, é um sofrimento de purificação. Quem lá está, sabe que um dia terá um fim. Os santos da Igreja ensinam que o sofrimento em si é o mesmo. A diferença está no contexto. A alma que está no inferno sabe que aquilo nunca terá fim, enquanto a alma que está no purgatório sabe que em um momento aquele sofrimento terá fim. 4 – O purgatório não é uma passagem obrigatória, mas somente aos que não atingiram a santificação necessária para ver a Deus. É grande o número de pessoas que dizem lutar para ir ao menos ao purgatório, confiando mais na misericórdia Divina que nos seus méritos. Mas sabemos que existem pessoas que podem e vão certamente ver a Deus no céu e por toda eternidade, sem a necessidade do purgatório. Rezemos pelas almas que padecem no purgatório, pois as nossas orações aliviam e retiram a muitos desse estado de purificação. Ensinamentos de São Francisco de Sales sobre o Purgatório 1 – As almas alí vivem uma contínua união com Deus. 2 – Estão perfeitamente conformadas com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer. Se lhes fosse aberto o Paraíso, prefeririam precipitar-se no inferno a apresentar-se manchadas diante de Deus. 3 -Purificam-se de forma voluntária, amorosamente, porque assim o quer Deus. 4 – Querem permanecer na forma que agradar a Deus e por todo o tempo que for da vontade Dele. 5 – São invencíveis na prova e não podem ter um movimento sequer de impaciência, nem cometer qualquer imperfeição. 6 – Amam mais a Deus do que a si próprias, com amor simples, puro e desinteressado. 7 – São consoladas pelos anjos. 8 – Estão certas da sua salvação, com uma esperança inigualável. 9 – As suas amarguras são aliviadas por uma paz profunda. 10 – Se é infernal a dor que sofrem, a caridade derrama-lhes no coração inefável ternura, a caridade que é mais forte do que a morte e mais poderosa que o inferno. 11 – O Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, porque as chamas que lá existem são chamas de amor. ( Extraído do livro O Breviário da Confiança, de Mons. Ascânio Brandão, 4a. ed. Editora Rosário, Curitiba, 1981) PADRE PIO E AS ALMAS DO PURGATORIO Numa tarde o padre Pio estava em um quarto, localizado na parte baixa do convento, destinado para casa de hóspedes. Ele estava só e descansando sobre o sofá, quando de repente, apareceu um homem envolto em uma capa preta. O padre Pio, surpreso, ergueu-se e perguntou para o homem quem ele era e o que ele queria. O estranho respondeu que era uma alma do Purgatório. "Eu sou Pietro Di Mauro". Disse-lhe então: "eu morri em um incêndio neste convento, em 18 de setembro de 1908. Na realidade esse convento, depois da desapropriação dos bens eclesiásticos, tinha sido transformado em uma casa de repouso para anciões. Eu morri entre as chamas quando eu estava dormindo, em meu colchão feito de palha, exatamente neste quarto. Eu venho do Purgatório: O bom Deus, deixou-me vir até aqui e lhe pedir que celebre para mim a santa missa de amanhã de manhã para o meu descanso eterno. Graças a esta Missa eu poderei entrar no Paraíso". Padre Pio falou para o homem que ele teria a missa santa para a sua alma.. o Padre Pio contou: "Eu, queria leva-lo até a porta do convento para me despedir quando repentinamente para minha surpresa ele desapareceu. Eu seguramente percebi que havia falado com uma pessoa morta, na realidade, tenho que admitir que eu reentrei no convento bastante amedrontado. O Padre Superior do convento, Monsenhor Paolino de Casacalenda, notou meu nervosismo, e então contei-lhe o que havia acontecido . Ai então lhe pedí a permissão para celebrar a Santa Missa da manhã seguinte em voto daquela alma necessitada. Alguns dias depois, Padre Paolino, despertado pela curiosidade foi até o escritório de registro de óbitos da comunidade de St. Giovanni Rotondo, e pediu a permissão para consultar o livro de registro de óbitos do ano de 1908. Após a consulta ele pode então verificar que a história do Santo Padre Pío era verdadeira, pois no registro relacionado às mortes do mês de setembro, Padre Paolino achou o nome, o apelido e a razão da morte: No dia 18 de setembro de 1908, no incêndio da casa de repouso morreu o Sr. Pietro Di Mauro. Celebrando a Santa Missa A Sra. Cleonice Morcaldi, de San Giovanni Rotondo era seguidora espiritual do padre Pio. Depois de um mês da morte de sua mãe, Padre Pio chegou para a Sra. Cleonice após o termino da confissão e disse: "Nesta manhã a sua mãe foi para Céu eu a vi enquanto estava celebrando a Santa Missa." Por isso queira decidir a data em que devo celebrar uma missa oferecendo o descanso eterno à alma de sua mãe. Padre Pio contou a seguinte história a Padre Anastasio: "Uma tarde, enquanto eu estava rezando só, eu ouvi o sussurro de um terno e eu vi um monge jovem que se mexeu próximo ao altar. Parecia que ele estava espanando os candelabros e regando os vasos das flores. Eu pensei que ele era o Padre Leone, que estava reestruturando o altar, e como era a hora do jantar, eu fui próximo a ele e lhe falei: Padre Leone, vá jantar, não está na hora de espanar e consertar o altar". Mas uma voz que não era a voz do padre Leone me respondeu: Eu não sou o Padre Leone. Então perguntei: quem é você? A voz então respondeu – "Eu sou um irmão seu que fez o noviciado aqui. Minha missão era limpar o altar durante o ano do noviciado. Desgraçadamente, durante todo esse tempo eu não reverenciei a Jesus Sacramentado Deus todo Poderoso, em nenhuma das vezes em que passava em frente ao altar. Causei grande aflição ao sacramento santo por causa da minha irreverência. Por esse descuido sério eu ainda estou no Purgatório. Agora, Deus, com a sua bondade infinita, enviou-me aqui para que você estabeleça o dia em que eu passarei a desfrutar o Paraíso. É para você cuidar de mim.. Padre Pio nos conta: "Eu creio ter sido generoso com aquela alma de sofrimento e assim exclamei: ‘você estará amanhã pela manhã no Paraíso, quando eu celebrar a Santa Missa.’ " "Aquela alma chorou e disse: ‘Cruel de mim, que malvado eu fui’. Então chorou e desapareceu. Aquela exclamação me produziu uma ferida no coração, que eu senti e sentirei a vida inteira. Na realidade eu teria podido enviar aquela alma imediatamente ao Céu, mas eu o condenei a permanecer outra noite nas chamas do Purgatório.”

A Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria

Uma dos dogmas da Igreja mais mal compreendidos hoje em dia é o da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria. Um dogma é uma verdade de fé que deve ser crida por todo cristão (como a Triunidade de Deus, a inerrância da Escritura, etc.). Assim, todo cristão deve crer na Imaculada Conceição. Mas o que significa "Imaculada Conceição"? Ao contrário do que muitos pensam, não é o fato de Jesus ter nascido sem que Nossa Senhora perdesse a virgindade; isso é a Virgindade Perpétua de Nossa Senhora, não sua Imaculada Conceição. A Imaculada Conceição é o fato de nossa Senhora ter sido concebida sem Pecado Original, não tendo jamais pecado nem tido vontade de pecar. O Pecado Original é aquilo que herdamos de nossos pais, e eles de seus pais, etc., até Adão. Desde que Adão e Eva escolheram dizer "não" a Deus, pecando por soberba ao quererem ser deuses no lugar de Deus, seus descendentes carregam esta "doença genética", transmitida de pai para filho. Os efeitos do Pecado Original são: na alma a tendência a fazer o mal e a inimizade para com Deus; no corpo a doença, velhice, e finalmente a morte. Nossa Senhora foi salva no instante mesmo de sua concepção, no instante em que a alma criada por Deus era infusa no embrião gerado naquele instante de maneira totalmente normal por S. Joaquim e Sant'Ana, os pais da Santíssima Virgem. Ela foi preservada do Pecado Original, sendo salva não da maneira comum (pelo Batismo), mas de maneira tal que a preservou de cometer pecados ou sequer desejar cometê-los, ficar jamais doente, etc. Podemos comparar esta diferença a uma outra situação: se uma pessoa cai em um poço e alguém vai e a tira de lá, esta pessoa foi "salva" pela que a tirou. Se, porém, esta pessoa está caindo no poço, está à beira do poço pronta para cair e alguém a segura com força e a puxa para fora, impedindo que caia, podemos também dizer que ela foi "salva" por quem a puxou. Nossa Senhora foi salva como quem é "salvo" de cair no poço, ao invés de ser salva como quem já caiu dentro dele, sujou-se todo e se machucou (o que é o nosso caso). Isto era necessário, por uma razão muito simples: Deus a preparou, a "planejou", por assim dizer, desde a queda de Adão para carregar a Deus em seu ventre (Gn 3,15). Seu Filho não era um menino qualquer que depois "virou Deus"; Ele era, Ele é Deus desde sempre. A partir de Sua concepção na Virgem Maria pelo Espírito Santo (Lc 1,31), Ele tomou a nossa natureza humana, sem perder a Sua Natureza Divina, e a segunda Pessoa da Santíssima Trindade fez-se Homem; "O Verbo se fez Carne, e habitou entre nós" (Jo 1,14). Como já vimos, o Pecado Original é transmitido de pai para filho (ou de mãe para filho...). Jesus, sendo Deus, não poderia jamais ser ao mesmo tempo Seu próprio inimigo, ser ao mesmo tempo alguém que, como nos explica São Paulo, é escravo do demônio (Hb 2,14-15) , por tender ao pecado em virtude das conseqüências do Pecado Original. "Ora", poderia dizer alguém que nega a Imaculada Conceição, "mas Jesus poderia transformar o Seu próprio corpo e Sua própria alma para arrancar destes o Pecado Original, ou simplesmente impedir que ele fosse transmitido". Isso, porém, não faria sentido: Em Ex 25,10-22, nós vemos o cuidado de Deus nas instruções para a preparação da Arca da Aliança, destinada a portar as Tábuas onde Deus escreveu a Lei dada a Moisés (Dt 10,1-2). Para portar a Palavra de Deus, Ele manda que os homens façam uma arca de maneira muitíssimo cuidadosa e detalhada, de ouro e madeira de acácia, materiais nobres e puros. Esta Arca não pode sequer ser tocada por mãos impuras! Em 2Sm 6,6-7, vemos como Oza, filho de Abinadab, percebe que os bois que carregavam o carro da Arca tropeçaram e a apara com as mãos; ele cai morto, fulminado no ato! O que Deus não faria então para preparar aquela que portaria não uma criatura de Deus (Sua Palavra), mas o próprio Senhor em seu ventre, aquela cujo sangue alimentaria o Verbo feito Carne, cujo leite nutriria a Deus feito homem? Se tocar a Arca que continha a Palavra bastava para matar uma pessoa bem-intencionada, que queria apenas impedir que ela caísse ao chão e se sujasse, será que Cristo poderia ser concebido e Se desenvolver em um útero impuro e escravizado ao demônio pelo Pecado Original?! Vemos como A Santíssima Virgem foi preservada do Pecado Original também em Lc 1,28, quando o Anjo Gabriel chega a Nossa Senhora e a saúda com as palavras "Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres". Como alguém que fosse um escravo do demônio, alguém que peca e tornará a pecar, poderia ser "cheia de graça"? Além disso, a reação de Nossa Senhora também é muito diferente da reação, que pode ser vista no mesmo capítulo, de Zacarias à chegada de um anjo: enquanto Nossa Senhora não se assusta nem um pouquinho, e medita sobre as palavras que o anjo disse, Zacarias fica perturbado e com medo antes mesmo do anjo falar. O que Zacarias faz não é estranho; é essa a reação de todos os que, carregando em seu corpo e em sua alma o Pecado Original, vêem-se face-a-face com um anjo; podemos ver, por exemplo, que esta é a mesmíssima reação que têm os pastores a quem o anjo anuncia o nascimento de Cristo (Lc 2,9). Alguns, para negar este dogma, dizem que Nossa Senhora não teria cumprido (Lc 2,22) os rituais de purificação, que incluem uma oferenda pelo pecado (Lv 12,2-8), caso fosse mesmo preservada do Pecado original por Deus. Ora, o Evangelista nos diz que "foram concluídos os dias da purificação de Maria segundo a Lei de Moisés"(Lc 2,22), não que ela tivesse realmente ficado impura ou pecado (o pecado que precisava de um sacrifício para purificação é a promessa inconsciente que toda mulher faz em meio às dores do parto: nunca mais ter outro filho. Ora, a dor do parto é, como vemos em Gn 3,16, outra conseqüência do Pecado Original). Nossa Senhora fez o sacrifício para submeter-se à Lei, como Cristo o fez (Gl 4,4), apesar de não precisar (Cf. Mt 17,23-26): para não ser causa de escândalo (Mt 17,26) e dar exemplo de obediência, para que saibamos que devemos obedecer à Lei de Cristo como Ele obedeceu à de Moisés. Outros dizem que a frase de São Paulo em Rm 3,23 ("todos pecaram") seria também aplicável à Santíssima Virgem, que teria assim pecado. Ora, se assim fosse, Nosso Senhor Jesus Cristo também teria pecado... Além disso o mesmo Apóstolo, na mesma Epístola, refere-se aos que não pecaram, em Rm 5,14. Muitos outros exemplo podemos encontrar de uso desta expressão generalizante ("todos pecaram") sem que seja realmente todos, sem exceção: em Mt 4,24, diz-se que "trouxeram-Lhe todos os que tinham algum mal", mas dificilmente todos os doentes da Síria teriam ido à Galiléia, passando por montanhas e desertos; em Jo 12,19, diz-se que "todo o mundo vai após" Jesus; será que realmente todas as pessoas, sem exceção, O seguem? Quem dera! Do mesmo modo, em Mt 3,5-6, vemos que a gente de "toda a Judéia e toda a terra dos arredores do Jordão" ia ser batizada por São João Batista; será que todos, inclusive Herodes, Rei da Judéia, que depois o mandou matar, todos os fariseus e saduceus, todos, sem exceção, foram ser batizados por São João? Será que "todo o povo" (Mt 27,25), sem exceção, assumiu a responsabilidade da morte de Cristo? Será que "todo o povo" que morava perto do mar (Mc 2,13) ou que vivia na Cesaréia de Filipe (Mc 9,14) foi ouvir a Cristo, sem ficar nem unzinho em casa? Dificilmente. Assim, além da exceção já evidente de Cristo na expressão generalizante usada por São Paulo em Rm 3,23 ("todos pecaram"), vemos que o uso desta palavra para significar "a maioria", ou "quase todos", não é restrito de modo algum a esta frase. O que podemos dizer então, senão o que disse o Anjo a Nossa Senhora? Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres... Autor: Carlos Ramalhete - Livre cópia e difusão do texto em sua íntegra com menção do autor.

História do Concílio Vaticano I

O Concílio do Vaticano I - O Concílio do Vaticano I foi o acontecimento de maior relevo na História da Igreja do século XIX. Os preparativos Mais de trezentos anos haviam decorridos após a última assembléia do Concílio de Trento (3-4/12/1563), quando Pio IX, em dezembro de 1864, comunicou secretamente aos cardeais a sua intenção de reunir novo Concílio Ecumênico: os tempos, ingratos como eram, o exigiam; era preciso deliberar sobre os remédios a oferecer-lhes - o que se faria por excelência num Concílio68. A Bula de convocação saiu aos 29/06/1868, convidando também os protestantes e os ortodoxos separados; estes, porém, não compareceram. a notícia de um próximo Concílio suscitou entusiasmo e também.apreensões; o público só sabia que seriam condenados erros contemporãneos, reafirmada a doutrina da Igreja, revistas a disciplina, a obra missionária, a formação dos seminaristas Mas na Cúria Romana reinava um certo mistério sobre os intensos preparativos do Concílio. A agitação pública aumentou quando em fevereiro de 1869 a revista jesuíta La Civilta Cattolica anunciou que o Concílio estava para definir a infalibilidade papal. o mundo não católico imbuído de liberalismo proclamava-se defensor da liberdade dos simples fiéis católicos, ¨subjugados pelo domínio obscuro e obscurantista dos eclesiásticos¨. Na Alemanha, o historiador Pe. lnácio Dollinger (1799-1890) colocou-se a frente do movimento antiinfalibilista, com diversos escritos contrarios a definição. o Presidente de Ministros da Baviera, Clodoveu de Hohenhole, procurou suscitar uma intervenção dos Governos europeus contra os pretensos perigos do Concílio. Os bispos alemães reunidos em Fulda (setembro de 1869) enviaram um escrito ao Papa em que declaravam não julgar oportuna a definição, embora não se opusessem a doutrina; temiam as reações dos Governos e cisões entre os próprios católicos. Em verdade, a definição desse dogma podia parecer ousadia numa época em que se respirava o liberalismo. O decorrer do Concílio O Concílio foi aberto aos 08/12/1869 na basílica de São Pedro, com a presença de 764 prelados. - No mesmo dia e na mesma hora, abria-se em Nápoles, sob a presidência de Ricciardi, um anticoncílio, do qual participaram 700 delegados maçônicos do mundo inteiro; a Indignação dispersou esse conciliábulo após poucos dias, tal era a indignação popular provocada por blasfêmias contra Cristo e sua Mãe Imaculada. Quatro foram as sessões públicas do Concílio. A terceira, aos 24/04/1870, promulgou uma Constituição Dogmática Dei Filius, unanimemente aprovada: o cap. 1º afirma a existência de um Deus pessoal, livre, Criador de todas as coisas e independente do mundo criado (contra o materialismo e o panteísmo); o capítulo 2º ensina que certas verdades religiosas, como a existência de Deus, ¨podem ser conhecidas com certeza pela luz natural da razão humana¨ (contra o ateísmo e contra o fideísmo69 num século em que a fé cristã era escarnecida pelo racionalismo, o Concílio defendia a razão!); o texto desse 2º capítulo acrescenta que houve uma Revelação Divina, a qual chega até nós mediante tradições orais e Escrituras Sagradas. O capítulo 3º proclama que a fé é uma adesão livre do homem a Deus, que surge um dom da graça divina. O capítulo 4º define os setores próprios da razão e da fé e lembra que qualquer aparente desacordo entre razão e fé Sé pode vir de falsa compreensão das proposições da fé ou das conclusões da razão. A quarta sessão do Concílio, aos 18/07/1870, definiu a infalibilidade do Papa e seu primado de jurisdição sobre a lgreja inteira. O texto proposto a discussão dos padres conciliares foi debatido de março a julho; a assembléia se dividiu em dois campos: a grande maioria julgava a definição oportuna e necessária (eram apoiados por uma corrente de leigos franceses, encabeçados por Louis Veuillot, que, repudiando os resquícios de galicanismo, eram ditos ultramontanos, pois ultrapassavam a cordilheira dos Alpes para aderir a Roma); os demais eram contrários à definição; destes, poucos se opunham ao dogma como tal; outros apenas negavam a oportunidade de o proclamar, por causa das reações que isto poderia provocar. Entre os adversários da definição, citam-se o bispo Strossmayer de Djakovar (Eslavônia), que, depois da definição, aceitou fielmente a sentença do Concílio; e a bispo Hetele, que aduzia o caso do Papa Honório contra a infalibilidade. Este caso já foi abordado no capítulo 1º: sabe-se que Honório I (625-38), homem pouco especulativo, foi solicitado pelo Patriarca Sérgio de Constantinopla para aderir ao monenergismo e ao monotelitismo70; Honório parece ter dado razão a Sérgio em suas cartas, ordenando que não se falasse mais nem de uma nem de duas energias (atividades) em Cristo; o Concílio Ecumênico de Constantinopla III em 681 condenou, por isto, o Papa Honório I. Ora deve-se dizer que Honório não tencionou pronunciar definições dogmáticas no caso; além disto, depreende-se do contexto mesmo das duas famosas cartas que, quando Honório fala de uma Sé vontade em Cristo, ele se refere ao plano moral e não ao plano físico (a vontade humana e a vontade divina em Jesus queriam sempre a mesma coisa). O mal de Honório não foi ter aderido ao erro, mas foi permitir, por descuido, que este se propagasse. Os argumentos da oposição foram sendo desfeitos. Quando viram a causa perdida, 56 dos oposicionistas se retiraram de Roma, tendo pedido e obtido a licença do Papa, aos 17/07/1870; deixaram, porém, uma carta ao Santo Padre, em que afirmavam seu propósito de conservar sempre fidelidade e submissão a Santa Sé. No dia seguinte, 18/07, 533 padres conciliares deram voto favorável à Constituição Pastor Aeternus; dois apenas se manifestaram contrários, mas logo se anexaram a sentença positiva. Pio IV promulgou logo a Constituição, o que provocou calorosa aclamação em toda a basílica de São Pedro. A Constituição assim aprovada consta de quatro capítulos, que afirmam o fundamento bíblico e patrístico, a duração perpétua, o valor e a essência do primado romano Assim como a infalibilidade do magistério papal. A autoridade do Papa foi definida como sendo sumo e imediato poder de jurisdição sobre toda a lgreja, ficando assim condenados o galicanismo e o febronianismo (cap. 3º). O capítulo 4º define, como dogma revelado por Deus, que as definições do Romano Pontífice proferidas ex cathedra, isto é, na qualidade de Mestre da lgreja inteira, em questões de fé e de Moral, gozam de especial assistência do Espírito Santo; são, pois, infalíveis e irreformáveis por si mesmas, sem necessitar da aprovação da igreja. Após esta memorável sessão, o Concílio ainda estava no início das suas atividades. Dos 51 projetos de decreto, Sé tinha estudado e publicado dois; das questões disciplinares, Sé quatro haviam sido discutidas, mas não definidas. Não obstante, o Concílio teve que ser interrompido abruptamente, pois no dia seguinte, 19/07, estourou a guerra franco-alemã, que obrigou muitos prelados a regressar a pátria. Sobreveio a ocupação de Roma aos 20/09/1870, que tornou praticamente impossível a continuação dos trabalhos. Em conseqüência, aos 20/10/1870 o Papa suspendeu o Concílio, que deveria voltar a reunir-se em época mais apropriada, mas na verdade nunca foi reaberto; o Concílio do Vaticano II (1962-65) havia de completar os seus trabalhos. A importância do Concílio do Vaticano I é enorme para a Igreja. A definição da infalibilidade papal era a conclusão lógica de premissas contidas na própria Escritura (Mt 16,16-19; Lc 22,31; Jo 21, 15-17) e desenvolvidas através dos tempos; principalmente por ocasião dos litígios que afetavam a lgreja, foi emergindo na consciência dos cristãos a preeminência do magistério dos sucessores de Pedro. Precisamente as tendências galicanas e febronianas dos séculos XVII/XVIII serviram para aguçar essa tomada de consciência de modo mais vivo; humanamente falando, os católicos podiam ter optado pelo nacionalismo eclesial, mas o desenrolar dos embates e a ação do Espírito Santo levaram a lgreja como tal a reafirmar a antiga verdade do primado papal tanto em matéria de jurisdição quanto em matéria de doutrina. Numa época de descrença, a fé se afirmava de maneira corajosa. A própria lgreja aparecia como algo de transcendente ou como um Sacramento, que o homem recebe de Deus, a diferença de outras sociedades e instituições. A centralização explicitada pelo Concílio do Vaticano I teve expressões sempre mais perceptíveis durante os pontificados seguintes. Era preciso que ocorresse o Concílio do Vaticano II (1962-65) para terminar a obra que o anterior deixara inacabada. O Vaticano I Sé pôde abordar a função do Romano Pontífice, dentro do exíguo espaço de sua duração; o Vaticano II abordou também o papel dos bispos e dos presbíteros na Igreja, pondo em relevo o conceito de colegialidade que, sem apagar o primado de Pedro, enriquece a estrutura da Igreja. Claro está que a agitação pública que precedeu e acompanhou o Vaticano I, não se apaziguou logo. - Os bispos da minoria oposicionista submeteram-se pouco depois, inclusive Hefele de Rottenburg à 10/04/1871). Também a maior parte dos teólogos reconheceram a definição. - No cenário político, a definição do Vaticano I não foi tão focalizada e discutida como o teria sido se não fora a guerra franco-alemã; todavia alguns Estados e Estadistas tomariam atitude de suspeita diante da Igreja; a Prússia e alguns cantões da Suíça adotaram fortes medidas contra os católicos, que levaram ao Kulturkampf (secularização de bens eclesiásticos). Estas conseqüências desagradáveis, que culminaram no cisma dos Velhos-Católicos, não chegam a extinguir as vantagens que da definição resultaram para a lgreja. Os Velhos-Católicos O Sacerdote Inácio Döllinger, já mencionado como adversário da definição, desde cedo mostrara-se favorável ao sistema febroniano. Era famoso historiador e teólogo de Munique, que professava idéias liberais em matéria de doutrina e um certo relativismo ou historicismo. Após a definição da infalibilidade, continuou a manifestar-se hostil ao Papado, que ele julgava desnecessário. A sua posição professada publicamente valeu Ihe a excomunhão da parte do arcebispo de Munique em 1871 - censura este que em 1872 atingiu outros professores de Faculdades alemãs, por se terem agregado a Döllinger. Aos poucos esses adeptos do mestre, a revelia do próprio mestre, resolveram fundar uma lgreja própria, cujo chefe era o professor João Frederico von Schulte, de Praga. A partir de 1872 foram sendo criadas paróquias de ¨Velhos-Católicos¨. Esta designação se deve ao fato seguinte: quando o arcebispo de Munique voltou de Roma, após o Concílio, convidou Inácio Döllinger a ¨trabalhar Para a Santa lgreja¨; este respondeu secamente: ¨Sim, Para a antiga lgreja! - Há uma Sé lgreja, replicou o arcebispo, não existe nova nem antiga Igreja! - Mas fizeram uma nova!¨, retrucou o professor. Por conseguinte, Döllinger pertencia a Velha Igreja; resolveram também instituir um bispo Para si em 1873 na pessoa do professor de Teologia Joseph Hubert Reinkens, que foi receber a ordenação episcopal das mãos do arcebispo jansenista de Utrecht na Holanda. Em Pentecostes de 1874 um Sínodo em Bonn aprovou a constituição eclesiástica traçada por Schulte: cada povo tem sua Igreja nacional autônoma; as Igrejas nacionais estão ligadas pela ¨Conferência¨ de seus bispos. A autoridade suprema é o Sínodo, do qual fazem parte todos os eclesiásticos e os deputados dos leigos de cada paróquia; o Sínodo promulga leis e examina a administração. Na paróquia a autoridade suprema toca à assembléia dos fiéis, que elege o seu pároco; a este assiste o Conselho Paroquial. Os Velhos-Católicos aos poucos foram sendo penetrados por teses protestantes, que Ihes pareciam corresponder à disciplina da Igreja dos oito primeiros séculos (donde o nome ¨Velhos-Católicos¨): rejeitaram, portanto, além do primado do Papa, o celibato sacerdotal, a confissão auricular, as indulgências, o culto dos santos, as procissões e peregrinações, a Imaculada Conceição. Introduziram a língua alemã na liturgia da Missa. Estas inovações causaram descontentamento dentro da própria comunhão cismática: dos Velhos-Católicos faziam-se Neo-protestantes. O próprio Inácio Döllinger abandonou publicamente a facção que ele inspirara. Aliás, a figura de Döllinger ficou sendo misteriosa. Ele não teria levado suas idéias a tais conseqüências práticas; não queria o cisma formal. Conservou-se sempre fiel aos votos do seu sacerdócio; absteve-se de celebrar a S. Missa após a excomunhão. Sempre levou vida muito modesta, de severa sobriedade e muito trabalho. Parece que no fim da vida sentia saudades da lgreja de sua juventude. Desaconselhou mesmo a um de seus discípulos, Blennerhasset, que o seguisse no caminho tomado após o Vaticano I. O fato é que morreu em 1890 sem se ter reconciliado com a Igreja. Em 1889, os Velhos-Católicos e os jansenistas se aliaram na chamada ¨União de Utrecht¨. As tendências liberais se fizeram sentir muito especialmente na Suíça, onde os Velhos-Católicos são chamados ¨Igreja Cristã Católica¨, dirigida por leigos e não por teólogos, como na Alemanha, porque as razões da oposição ao Vaticano I eram mais políticas do que teológicas. http://www.universocatolico.com.br/index.php?/historia-do-concilio-vaticano-i.html

CONCÍLIO VATICANO I (1869-1870)

CONCÍLIO VATICANO I (1869-1870) Sessão III - Constituição Dogmática Sobre a Fé CatólicaCap. I - Deus, Criador de todas as coisas Cap. II – A Revelação Cap. III – A fé Cap. IV – A fé e a razão Cânones [sobre a fé católica] Sobre Deus, Criador de todas as coisas Sobre a revelação Sobre a fé Sobre a fé e a razão Sessão IV - Primeira Constituição dogmática sobre a Igreja de Cristo Cap. I – A instituição do primado apostólico em S. Pedro Cap. II – A perpetuidade do primado de S. Pedro nos Romanos Pontífices Cap. III – A natureza e o caráter do primado do Pontífice Romano Cap. IV – O Magistério infalível do Romano Pontífice Sessão III (24-4-1870) Constituição Dogmática Sobre A Fé Católica 1781. Agora, porém, Nós, juntamente com todos os bispos do mundo que conosco governam a Igreja, congregados no Espírito Santo neste Concílio Ecumênico, sob a nossa autoridade, apoiados na palavra de Deus, quer escrita quer transmitida por Tradição, conforme a recebemos santamente conservada e genuinamente exposta pela Igreja Católica, resolvemos professar e declarar, desta cátedra de Pedro, diante de todos, a salutar doutrina de Cristo, proscrevendo e condenando, com o poder divino a Nós confiado, os erros contrários. Cap I. – Deus, Criador de todas as coisas 1782. A Santa Igreja Católica Apostólica Romana crê e confessa que há um [só] Deus verdadeiro e vivo, Criador e Senhor do céu e da terra, onipotente, eterno, imenso, incompreensível, infinito em intelecto, vontade e toda a perfeição; o qual, sendo uma substância espiritual una e singular, inteiramente simples e incomunicável, é real e essencialmente distinto do mundo, sumamente feliz em si e por si mesmo, e está inefavelmente acima de tudo o que existe ou fora dele se possa conceber [cân. 1-4]. 1783. Este único e verdadeiro Deus, por sua bondade e por sua ¨virtude onipotente¨, não para adquirir nova felicidade ou para aumentá-la, mas a fim de manifestar a sua perfeição pelos bens que prodigaliza às criaturas, com vontade plenamente livre, ¨criou simultaneamente no início do tempo ambas as criaturas do nada: a espiritual e a corporal, ou seja, os anjos e o mundo; e em seguida a humana, constituída de espírito e corpo¨ [IV Concílio de Latrão]. 1784. Tudo o que Deus criou, conserva-o e governa-o com sua providência, atingindo fortemente desde uma extremidade a outra, e dispondo de todas as coisas com suavidade [cf. Sab 8,1]. Pois tudo está nu e descoberto aos seus olhos [Heb 4,13], mesmo os atos dependentes da ação livre das criaturas. Cap. II – A Revelação 1785. A mesma Santa Igreja crê e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, por meio das coisas criadas; pois as perfeições invisíveis tornaram-se visíveis depois da criação do mundo, pelo conhecimento que as suas obras nos dão dele [Rom 1,20]; mas que aprouve à sua misericórdia e bondade revelar-se a si e os eternos decretos da sua vontade ao gênero humano por outra via, e esta sobrenatural, conforme testemunha o Apóstolo: Havendo Deus outrora falado aos pais pelos profetas, muitas vezes e de muitos modos, ultimamente, nestes dias, falou-nos pelo Filho [Heb 1,1 s; cân. 1]. 1786. A esta revelação divina deve-se certamente atribuir o poder em todos, mesmo nas condições atuais do gênero humano, conhecer expeditamente, com firme certeza e sem mistura de erro, aquilo que nas coisas divinas não é de per si inacessível à razão humana. Contudo, não se deve dizer que a revelação é absolutamente necessária por este motivo, mas porque Deus, em sua infinita bondade, ordenou o homem para o fim sobrenatural, isto é, para participar dos bens divinos, que estão inteiramente acima da compreensão humana; pois nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem penetrou no coração do homem, o que Deus preparou para aqueles que o amam [1 Cor 2,9; cân. 2 e 3]. 1787. Esta revelação sobrenatural, porém, segundo a doutrina da Igreja universal, definida pelo Concílio Tridentino, está contida ¨nos livros e nas tradições não escritas que, recebidas pelos Apóstolos da boca do próprio Cristo, ou que transmitidas como que mão em mão pelos próprios Apóstolos sob a inspiração do Espírito Santo, chegaram até nós¨ [Concílio Tridentino]. E estes livros do Antigo e do Novo Testamento, inteiros e com todas as suas partes, conforme vêm enumerados no decreto do mesmo Concílio e se encontram na antiga edição latina da Vulgata, devem ser aceitos como sagrados e canônicos. E a Santa Igreja os tem como tais, não por terem sido redigidos somente por obra humana e em seguida aprovados pela sua autoridade, nem somente por conterem a revelação isenta de erro, mas porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, têm a Deus por autor, e como tais foram confiados à mesma Igreja [cân. 4]. 1788. Todavia, já que o salutar decreto dado pelo Concílio Tridentino sobre a interpretação da Sagrada Escritura para corrigir espíritos petulantes é erradamente exposto por alguns, Nós, renovando o mesmo decreto, declaramos que o seu sentido é que, nas coisas da fé e da moral, pertencentes à estrutura da doutrina cristã, deve-se ter por verdadeiro sentido da Sagrada Escritura aquele que foi e é mantido pela Santa Madre Igreja, a quem compete decidir do verdadeiro sentido e da interpretação da Sagrada Escritura; e que, por conseguinte, a ninguém é permitido interpretar a mesma Sagrada Escritura contrariamente a este sentido ou também contra o consenso unânime dos Santos Padres. Cap. III – A fé 1789 Visto que o homem depende inteiramente de Deus como seu Criador e Senhor, e que a razão criada está inteiramente sujeita à Verdade incriada, somos obrigados a prestar, pela fé, à revelação de Deus, plena adesão do intelecto e da vontade [cân. 1]. Esta fé, porém, que é ¨o início da salvação humana¨, a Igreja a define como uma virtude sobrenatural pela qual, inspirados e ajudados pela graça, cremos ser verdade o que Deus revelou, não devido à verdade intrínseca das coisas, conhecida pela luz natural da razão, mas em virtude da autoridade do próprio Deus, autor da revelação, que não pode enganar-se nem enganar [cân. 2].Pois, segundo o testemunho do Apóstolo, a fé é o fundamento firme das coisas esperadas, uma prova das coisas que não se vêem [Heb 11,1]. 1790. Não obstante, para que a homenagem de nossa fé estivesse em conformidade com a razão [cf. Rom 12,1], quis Deus ajuntar ao auxílio interno do Espírito Santo os argumentos externos da sua revelação, isto é, os fatos divinos, e sobretudo os milagres e as profecias, que, por demonstrarem abundantemente a onipotência e a ciência infinita de Deus, são sinais certíssimos as revelação divina, acomodados que são à inteligência de todos [cân. 3 e 4]. Foi por isso que Moisés, os profetas e principalmente o próprio Jesus Cristo fizeram muitos e manifestíssimos sinais e profecias; e dos Apóstolos lemos: Eles, porém, partiram e pregaram em toda a parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a sua palavra com os sinais que a acompanhavam [Mc 16,20]. E em outro texto se lê: E temos ainda mais firme a palavra dos profetas, à qual fazeis bem de atender, como a uma candeia que alumia em um lugar tenebroso [ 2 Ped 1,19]. 1791. Embora, porém, a adesão da fé não seja de modo algum um movimento cego do espírito, ninguém, contudo, pode ¨crer na pregação evangélica¨, como se exige para conseguir a salvação, ¨sem a iluminação e a inspiração do Espírito Santo, que a todos faz encontrar doçura em consentir e crer na verdade¨ [Concílio II Arausicano]. Pelo que, [já] a própria fé em si, embora não opere pela caridade [cf. Gál 5,6], é um dom de Deus, e o seu exercício é um ato salutar, pelo qual o homem presta livre obediência ao próprio Deus, prestando consentimento e cooperação à sua graça, à qual poderia resistir [cân. 5]. 1792. Deve-se, pois, crer com fé divina e católica tudo o que está contido na palavra divina escrita ou transmitida pela Tradição, bem como tudo o que a Igreja, quer em declaração solene, quer pelo Magistério ordinário e universal, nos propõe a crer como revelado por Deus. 1793. Como, porém, sem a fé é impossível agradar a Deus [Heb 11,6] e chegar ao consórcio dos seus filhos, ninguém jamais pode ser justificado sem ela, nem conseguir a vida eterna se nela não permanecer até o fim [Mt 10,22;24,13]. E para que pudéssemos cumprir o dever de abraçar a verdadeira fé e nela perseverar constantemente, Deus instituiu, por meio de seu Filho Unigênito, a Igreja, e a muniu com os sinais manifestos da sua instituição, para que pudesse ser por todos reconhecida como guarda e mestra da palavra revelada. 1794. Porquanto somente à Igreja Católica pertencem todos os caracteres, tão numerosos e tão admiravelmente estabelecidos por Deus para tornar evidente a credibilidade da fé cristã. Além disso, a Igreja em si mesma, pela sua admirável propagação, exímia santidade e inesgotável fecundidade em todos os bens, pela sua unidade católica e invicta estabilidade, é um grave e perpétuo motivo de credibilidade, e um testemunho irrefragável da sua missão divina. Donde resulta que a mesma Igreja, como um estandarte que se ergue no meio das nações [Is 11,12], não só convida os incrédulos a entrarem no seu grêmio, mas também garante a seus filhos que a fé que professam se baseia em fundamento firmíssimo. A este testemunho acresce o auxílio eficaz da virtude do alto. Porquanto o begníssimo Senhor excita e ajuda com a sua graça os que vagueiam no erro, a fim de poderem chegar ao conhecimento da verdade [1 Tim 2,4]. E aos que chamou das trevas à luz maravilhosa [1 Ped 2,9], confirma-os com sua graça, para que permaneçam nesta mesma luz, não os abandonando senão quando primeiro abandonado por eles. Pelo que, de maneira alguma é igual a condição daqueles que, pelo dom celeste da fé, abraçaram a verdade católica, e dos que, levados por opiniões humanas, seguem uma religião falsa; pois os que receberam a fé sob o Magistério da Igreja, jamais poderão ter justa razão de alterar ou por em dúvida esta mesma fé [ cân. 6]. E por isso, dando graças a Deus Pai, que nos fez idôneos de participar da sorte dos santos na luz [Col 1,12], não menosprezemos tão grande vantagem, mas, pondo os olhos em Jesus, autor e consumador da fé [Heb 12,2], conservemos firme a profissão da nossa esperança [Heb 10,23]. Cap. IV – A fé e a razão 1795. O consenso constante da Igreja Católica tem também crido e crê que há duas ordens de conhecimento, distintas não só por seu princípio, mas também por seu objeto; por seu princípio, visto que numa conhecemos pela razão natural, e na outra pela fé divina; e por seu objeto, porque, além daquilo que a razão natural pode atingir, propõem-se-nos a crer mistérios escondidos em Deus, que não podemos conhecer sem a revelação divina [cân. 1]. E eis por que o Apóstolo, que assegura que os gentios conheceram a Deus por meio das suas obras [Rom 1,20], discorrendo, todavia, sobre a graça e verdade que foram anunciadas por Jesus Cristo [cf. Jo 1,17], diz: Falamos da sabedoria de Deus em mistério, que fora descoberta e que Deus predestinou antes dos séculos, para nossa glória. A qual nenhum dos poderosos deste mundo conheceu..., a nós, porém, o revelou Deus pelo seu Espírito; porque o Espírito tudo penetra, também as coisas profundas de Deus [1 Cor 7,8,10]. E o próprio Unigênito glorifica ao Pai, porque escondeu essas coisas aos sábios e entendidos e as revelou aos pequeninos [cf. Mt 11,25]. 1796. Em verdade, a razão, iluminada pela fé, quando investiga diligente, pia e sobriamente, consegue, com a ajuda de Deus, alguma compreensão dos mistérios, e esta frutuosíssima quer pela analogia das coisas conhecidas naturalmente, quer pela conexão dos próprios mistérios entre si e com o fim último do homem; nunca, porém, se torna capaz de compreendê-los como compreende as verdades que constituem o seu objeto próprio, pois os mistérios divinos, por sua própria natureza, excedem de tal modo a inteligência criada, que, mesmo depois de revelados e aceitos pela fé, permanecem ainda encobertos com os véus da mesma fé, e como que envoltos em um nevoeiro, enquanto durante esta vida vivermos ausentes do Senhor; pois andamos guiados pela fé, e não pela contemplação [2 Cor 5,6 s]. 1797. Porém, ainda que a fé esteja acima da razão, jamais pode haver verdadeira desarmonia entre uma e outra, porquanto o mesmo Deus que revela os mistérios e infunde a fé, dotou o espírito humano da luz da razão; e Deus não pode negar-se a si mesmo, nem a verdade jamais contradizer à verdade. A vã aparência de tal contradição nasce principalmente ou de os dogmas da fé não terem sido entendidos e expostos segundo a mente da Igreja, ou de se terem as simples opiniões em conta de axiomas certos da razão. Por conseguinte, ¨definimos como inteiramente falsas qualquer asserção contrária a uma verdade de fé¨ [V Concílio de Latrão]. 1798. Ademais a Igreja, que juntamente com o múnus apostólico de ensinar recebeu o mandato de guardar o depósito da fé, tem também de Deus o direito e o dever de proscrever a ciência falsa [1 Tim 6,20], a fim de que ninguém se deixe embair pela filosofia e por sofismas pagãos [cf. Col 2, 8; cân 2]. Eis por que não só é vedado a todos os cristãos defender como legítimas conclusões da ciência tais opiniões reconhecidamente contrárias à fé, máxime se tiverem sido reprovadas pela Igreja, mas ainda estão inteiramente obrigados a tê-las por conta de erros, revestidas de uma falsa aparência de verdade. 1799. E não só não pode jamais haver desarmonia entre fé e a razão, mas uma serve de auxílio à outra, visto que a reta razão demonstra os fundamentos da fé, e cultiva, iluminada com a luz desta, a ciência das coisas divinas; e a fé livra e guarda a razão dos erros, enriquecendo-a de múltiplos conhecimentos. Por isso a Igreja, longe de se opor ao cultivo das artes e das ciências humanas, até as auxilia e promove de muitos modos. Porquanto não ignora nem despreza as vantagens que delas dimanam para a vida humana; pelo contrário, ensina que, derivando elas de Deus, o Senhor das ciências [1 Rs 2,3], se forem bem empregadas, conduzem para Deus, com o auxílio de sua graça. Nem proíbe [a Igreja] que tais disciplinas, dentro de seu respectivo âmbito, façam uso de seus princípios e métodos próprios; mas, reconhecendo embora esta justa liberdade, admoesta cuidadosamente que não admitam em si erros contrários à doutrina de Deus ou ultrapassem os próprios limites, invadindo e perturbando o que é do domínio da fé. 1800. Pois a doutrina da fé, que Deus revelou, não foi proposta ao engenho humano como uma descoberta filosófica a ser por ele aperfeiçoada, mas foi entregue à Esposa de Cristo como um depósito divino, para ser por ela finalmente guardada e infalivelmente ensinada. Daí segue que sempre se deve ter por verdadeiro sentido dos dogmas aquele que a Santa Madre Igreja uma vez tenha declarado, não sendo jamais permitido, nem a título de uma inteligência mais elevada, afastar-se deste sentido [ cân. 3]. ¨Cresçam, pois, e multipliquem-se abundantemente, tanto em cada um como em todos, tanto no homem individual como em toda a Igreja, segundo o progresso das idades e dos séculos, a inteligência, a ciência e a sabedoria, mas somente no seu gênero, isto é, na mesma doutrina, no mesmo sentido e no mesmo pensamento¨ [ Vicente de Lirino, Commonitorium, nº 28. ML 50, 668 (c. 23)]. Cânones [sobre a fé católica] 1. Sobre Deus, Criador de todas as coisas 1801. Cân. 1 – Se alguém negar que há um só Deus verdadeiro, Criador e Senhor das coisas visíveis e invisíveis – seja excomungado [cf. nº 1782]. 1802. Cân. 2 – Se alguém não envergonhar de afirmar que além da matéria nada existe – seja excomungado [cf. nº 1783]. 1803. Cân. 3 – Se alguém disser que a substância ou essência de Deus é a mesma que a substância ou essência de todas as coisas – seja excomungado [cf. nº 1782]. 1804. Cân. 4 – Se alguém disser que as coisas finitas tanto as corpóreas como as espirituais, ou ao menos as espirituais, emanaram da substância divina; ou que pela manifestação ou evolução da essência divina se originaram todas as coisas; ou, finalmente, que Deus é um ser universal ou indefinido, que, ao ir-se determinando, daria origem à universalidade das coisas, distinta em gênero, espécie e nos indivíduos – seja excomungado. 1805. Cân. 5 – Se alguém não professar que o mundo e todas as coisas nele contidas, quer espirituais, quer materiais, foram por Deus tiradas do nada segundo toda a sua substância [ cf. nº 1783]; ou disser que Deus criou, não com vontade inteiramente livre, mas com a mesma necessidade com que se ama a si mesmo [cf. nº 1783]; ou negar que o mundo foi feito para a glória de Deus – seja excomungado. 2. Sobre a revelação 1806. Cân.1 – Se alguém disser que o Deus uno e verdadeiro, Criador e Senhor nosso, não pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, por meio das coisas criadas – seja excomungado [cf. nº 1785]. 1807. Cân. 2 – Se alguém afirmar ser impossível ou ao menos inconveniente que o homem seja instruído por revelação divina sobre Deus e o culto a ele devido – seja excomungado [cf. nº 1786]. 1808. Cân. 3 – Se alguém disser que o homem não pode ser por Deus guindado a um conhecimento e perfeição que excedam o natural, mas que [o homem] deve por si mesmo, progredindo sempre, chegar finalmente a possessão de toda a verdade e de todo o bem – seja excomungado. 1809. Cân. 4 – Se alguém não admitir como sagrados e canônicos os livros da Sagrada Escritura, inteiros e com todas as suas partes, conforme foram enumerados pelo sacrossanto Concílio de Trento, ou lhes negar a inspiração divina – seja excomungado. 3. Sobre a fé 1810. Cân. 1 – Se alguém afirmar que a razão humana é de tal modo independente, que Deus não possa impor-lhe a fé – seja excomungado [cf. nº 1789] 1811. Cân. 2 – Se alguém disser que a fé divina não se distingue do conhecimento natural de Deus e da moral, e que portanto para a fé divina não se requer que a verdade revelada seja crida por causa da autoridade de Deus que a revela – seja excomungado [cf. nº 1789]. 1812. Cân. 3 – Se alguém disser que a revelação divina não pode tornar-se mais compreensível por meio de sinais externos, e que portanto os homens devem ser motivados à fé só, pela experiência interna individual ou por inspiração privada – seja excomungado [cf. nº 1790]. 1813. Cân. 4 – Se alguém disser que não pode haver milagres, e que portanto todas as narrações deles, também as contidas na Sagrada Escritura, se devem relegar ao reino da fábula e do mito; ou disser que os milagres nunca podem ser conhecidos com certeza, nem se pode por eles provar a origem divina da religião cristã – seja excomungado [cf. nº 1790]. 1814. Cân. 5 – Se alguém disser que o assentimento à fé cristã não é livre, mas resulta necessário dos argumentos da razão humana; ou disser que a graça de Deus só é necessária para a fé viva, que opera pela caridade [Gál 5,6] – seja excomungado [cf. nº 1795 s]. 1815 Cân. 6 - Se alguém afirmar ser idêntica a condição dos fiéis e a daqueles que ainda não chegaram a fé única e verdadeira, assim que os católicos possam ter justa razão para duvidar da fé que abraçaram sob o Magistério da Igreja, suspendendo o assentimento até terem concluído a demonstração científica da credibilidade e veracidade da sua fé - seja excomungado [cf. nº 1795 s]. 4.Sobre a fé e a razão 1816. Cân. 1 - Se alguém disser que na revelação divina não nenhum mistério verdadeiro e propriamente dito, mas que todos os dogmas da fé podem ser compreendidos e demonstrados pela razão, devidamente cultivada, por meio dos princípios naturais – seja excomungado [cf. nº 1795 sq]. 1817. Cân. 2 – Se alguém disser que as ciências humanas devem ser tratadas com tal liberdade que as suas conclusões, embora contrárias à doutrina revelada, possam ser retidas como verdadeiras e não possam ser proscritas pela Igreja – seja excomungado [cf. nº 1797-1799]. 1818. Cân. 3 - Se alguém disser que às vezes, conforme o progresso das ciências, se pode atribuir aos dogmas propostos pela Igreja um sentido diverso daquele que ensinou e ensina a Igreja - seja excomungado [cf. nº 1800]. 1819. Por isso Nós, cumprindo o supremo ofício pastoral que nos cabe exercer, pedimos insistentemente pelas entranhas de Jesus Cristo a todos os fiéis cristãos, especialmente aos chefes e aos que exercem o ofício de ensinar, e mandamos, com a autoridade do mesmo Deus e Salvador nosso, que se esforcem por eliminar e afastar da Santa Igreja tais erros, e por difundir a luz da fé pura e verdadeira. 1820. Porém, já que não é possível evitar a heresia, a não ser fugindo também daqueles erros que se aproximam mais ou menos dela, lembramos a todos o dever de observar também as Constituições e os Decretos pelos quais esta Santa Sé proscreve e proíbe tais opiniões perversas, que não vêm aqui enumeradas. Sessão IV (18-7-1870) Primeira Constituição dogmática sobre a Igreja de Cristo 1821. O eterno pastor e bispo das nossas almas [1 Ped 2,25], querendo perpetuar a salutífera obra da redenção, resolveu fundar a Santa Igreja, na qual, como na casa do Deus vivo, todos os fiéis se conservassem unidos, pelo vínculo da mesma fé e do mesmo amor. Por isso, antes de ser glorificado, rogou ao Pai não só pelos Apóstolos, mas também por aqueles que haviam de crer nele através das palavras deles, para que todos fossem um, assim como o Filho e o Pai são um [ Jo 17,20 s]. Por isso, assim como enviou os Apóstolos que tinha escolhido do mundo, conforme tinha sido ele mesmo enviado pelo Pai [Jo 20,21], da mesma forma quis que até a consumação dos séculos [Mt 28,20], houvesse na sua Igreja pastores e doutores. Mas, para que o próprio episcopado fosse uno e indiviso, e pela coesão e união íntima dos sacerdotes toda a multidão dos crentes se conservasse na unidade da mesma fé e comunhão, antepondo S. Pedro aos demais Apóstolos, pôs nele o princípio perpétuo e o fundamento visível desta dupla unidade, sobre cuja solidez se construísse o templo eterno e se levantasse sobre a firmeza desta fé a sublimidade da Igreja, que deve elevar-se até ao céu. E como as portas do inferno se insurgem de todas as partes de dia para dia com crescente ódio contra a Igreja divinamente estabelecida, a fim de fazê-la ruir, se pudessem, Nós julgamos necessário para a guarda, para a incolumidade e para o aumento da grei católica, após a aprovação do Concílio, propor a crença dos fiéis a doutrina sobre a instituição, a perpetuidade e a natureza do santo primado Apostólico, no qual reside a força e a solidez de toda a Igreja, segundo a fé antiga e constante da Igreja universal, proscrevendo e condenando os erros contrários, tão perniciosos a grei do Senhor. Cap. I – A instituição do primado apostólico em S. Pedro 1822. Ensinamos, pois, e declaramos, segundo o testemunho do Evangelho, que Jesus Cristo prometeu e conferiu imediata e diretamente o primado de jurisdição sobre toda a Igreja ao Apóstolo S. Pedro. Com efeito, só a Simão Pedro, a quem antes dissera: Chamar-te-ás Cefas [Jo 1,42], depois de ter ele feito a sua profissão com as palavras: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo, foi que o Senhor se dirigiu com estas solenes palavras: Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque nem a carne nem o sangue to revelaram, mas sim meu Pai que está nos céus. E eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E dar-te-ei as chaves do reino dos céus. E tudo o que ligares sobre a terra será ligado também nos céus; e tudo o que desligares sobre a terra será desligado também nos céus [Mt 16,16 ss]. E somente a Simão Pedro conferiu Jesus, após a sua ressurreição, a jurisdição de pastor e chefe supremo de todo o seu rebanho, dizendo: Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas [Jo 21,15 ss.]. A esta doutrina tão clara das Sagradas Escrituras, tal como sempre foi entendida pela Igreja Católica, opõe-se abertamente as sentenças perversas daqueles que, desnaturando a forma de governo estabelecida na Igreja por Cristo Nosso Senhor, negam que só Pedro foi agraciado com o verdadeiro e próprio primado de jurisdição, com exclusão dos demais Apóstolos, quer tomados singularmente, quer em conjunto. Igualmente se opõem a esta doutrina os que afirmam que o mesmo primado não foi imediata e diretamente confiado a S. Pedro mesmo, mas à Igreja, e por meio desta a ele, como ministro dela. 1823. [Cânon] Se, pois, alguém disser que o Apóstolo S. Pedro não foi constituído por Jesus Cristo príncipe de todos os Apóstolos e chefe visível de toda a Igreja militante; ou disser que ele não recebeu direta e imediatamente do mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo o primado de verdadeira e própria jurisdição, mas apenas o primado de honra – seja excomungado. Cap. II – A perpetuidade do primado de S. Pedro nos Romanos Pontífices 1824. Porém o que Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o príncipe dos pastores e o grande pastor das ovelhas, instituiu no Apóstolo S. Pedro para a salvação eterna e o bem perene da Igreja, deve constantemente subsistir pela autoridade do mesmo Cristo na Igreja, que, fundada sobre o rochedo, permanecerá inabalável até ao fim dos séculos. ¨Ninguém certamente duvida, pois é um fato notório em todos os séculos, que S. Pedro, príncipe e chefe dos Apóstolos, recebeu de Nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador e Redentor do gênero humano, as chaves do reino; o qual (S. Pedro) vive, governa e julga através dos seus sucessores¨. 1825. [Cânon] Se, portanto, alguém negar ser de direito divino e por instituição do próprio Cristo que S. Pedro tem perpétuos sucessores no primado da Igreja universal; ou que o Romano Pontífice é o sucessor de S. Pedro no mesmo primado – seja excomungado Cap. III – A natureza e o caráter do primado do Pontífice Romano 1826. Por isso, apoiados no testemunho manifesto da Sagrada Escritura, e concordes com os decretos formais e evidentes, tanto dos Romanos Pontífices, nossos predecessores, como dos Concílios gerais, renovamos a definição do Concílio Ecumênico de Florença, que obriga todos os fiéis cristãos a crerem que a Santa Sé Apostólica e o Pontífice Romano têm o primado sobre todo o mundo, e que o mesmo Pontífice Romano é o sucessor de S. Pedro, o príncipe dos Apóstolos, é o verdadeiro vigário de Cristo, o chefe de toda a Igreja e o pai e doutor de todos os cristãos; e que a ele entregou Nosso Senhor Jesus Cristo todo o poder de apascentar, reger e governar a Igreja universal, conforme também se lê nas atas dos Concílios Ecumênicos e nos sagrados cânones. 1827. Ensinamos, pois, e declaramos que a Igreja Romana, por disposição divina, tem o primado do poder ordinário sobre as outras Igrejas, e que este poder de jurisdição do Romano Pontífice, poder verdadeiramente episcopal, é imediato. E a ela [à Igreja Romana] devem-se sujeitar, por dever de subordinação hierárquica e verdadeira obediência, os pastores e os fiéis de qualquer rito e dignidade, tanto cada um em particular, como todos em conjunto, não só nas coisas referentes à fé e aos costumes, mas também nas que se referem à disciplina e ao regime da Igreja, espalhada por todo o mundo, de tal forma que, guardada a unidade de comunhão e de fé com o Romano Pontífice, a Igreja de Cristo seja um só redil com um só pastor. Esta é a doutrina católica, da qual ninguém pode se desviar, sob pena de perder a fé e a salvação. 1828. Estamos, porém, longe de afirmar que este poder do Sumo Pontífice acaba com aquele poder ordinário e imediato de jurisdição episcopal, em virtude do qual os bispos, constituídos pelo Espírito Santo [cf. At 20,28] e sucessores dos Apóstolos, apascentam e regem, como verdadeiros pastores, os seus respectivos rebanhos; pelo contrário, este poder é firmado, corroborado e reivindicado pelo pastor supremo e universal, segundo o dizer de S. Gregório Magno: ¨A minha honra é o vigor dos meus irmãos. Sinto-me verdadeiramente honrado, quando a cada qual se tributa a honra que lhe é devida¨. 1829. Além disso, do supremo poder do Romano Pontífice de governar toda a Igreja resulta o direito de, no exercício deste seu ministério, comunicar-se livremente com os pastores e fiéis de toda a Igreja, para que estes possam ser por ele instruídos e dirigidos no caminho da salvação. Pelo que condenamos e reprovamos as máximas daqueles que dizem poder-se impedir licitamente esta comunicação do chefe supremo com os pastores e os fiéis, ou a subordinam ao poder secular, a ponto de afirmarem que o que é determinado pela Sé Apostólica em virtude da sua autoridade para o governo da Igreja, não tem força nem valor, a não ser depois de confirmado pelo benplácito do poder secular. 1830. E como o Pontífice Romano governa a Igreja Universal em virtude do direito divino do primado apostólico, também ensinamos e declaramos que ele é o juiz supremo de todos os fiéis, podendo-se, em todas as coisas pertencentes ao foro eclesiástico, recorrer ao seu juízo; [declaramos] também que a ninguém é lícito emitir juízo acerca do julgamento desta Santa Sé, nem tocar neste julgamento, visto que não há autoridade acima da mesma Santa Sé. Por isso, estão fora do reto caminho da verdade os que afirmam ser lícito apelar da sentença do Pontífices Romanos para o Concílio Ecumênico, como sendo uma autoridade acima do Romano Pontífice. 1831. [Cânon] Se, pois alguém disser que ao Romano Pontífice cabe apenas o ofício de inspeção ou direção, mas não o pleno e supremo poder de jurisdição sobre toda a Igreja, não só nas coisas referentes à fé e aos costumes, mas também nas que se referem à disciplina e ao governo da Igreja, espalhada por todo o mundo;ou disser que ele só goza da parte principal deste supremo poder, e não de toda a sua plenitude; ou disser que este seu poder não é ordinário e imediato, quer sobre todas e cada uma das igrejas quer sobre todos e cada um dos pastores e fiéis – seja excomungado. Cap. IV – O Magistério infalível do Romano Pontífice 1832. Esta Santa Sé sempre tem crido que no próprio primado Apostólico que o Romano Pontífice tem sobre toda a Igreja, está também incluído o supremo poder do magistério. O mesmo é confirmado também pelo uso constante da Igreja e pelos Concílios Ecumênicos, principalmente aqueles em que os Orientais se reuniam com os Ocidentais na união da fé e da caridade. 1833. Assim, os Padres do IV Concílio de Constantinopla, seguindo o exemplo dos antepassados, fizeram esta solene profissão da fé: ¨A salvação consiste antes de tudo em guardar a regra da fé verdadeira. [...]. E como a palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo que disse: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja [Mt 16,18] não pode ser vã, os fatos a têm confirmado, pois na Sé Apostólica sempre se conservou imaculada a religião católica e santa a doutrina. Por isso, não desejando absolutamente separar-nos desta fé e desta doutrina, [...] esperamos merecer perseverar na única comunhão pregada pela Sé Apostólica, na qual está sólida, íntegra e verdadeira a religião cristã¨. 1834. E os gregos, com a aprovação do II Concílio de Lião, professaram ¨que a Santa Igreja Romana goza do supremo e pleno primado e principado sobre toda a Igreja Católica, primado que com verdade ela reconhece humildemente ter recebido, com a plenitude do poder, do próprio Jesus Cristo, na pessoa de S. Pedro, príncipe dos Apóstolos, de quem o Romano Pontífice é sucessor; e assim com a Igreja Romana, mais do que as outras, deve defender a verdadeira fé assim também, quando surgirem questões acerca da fé, cabe a ela o defini-las¨. 1835. E finalmente o Concílio de Florença definiu ¨que o Romano Pontífice é o verdadeiro vigário de Cristo, o chefe de toda a Igreja, o pai e o doutor de todos os cristãos; e que a ele conferiu Nosso Senhor Jesus Cristo, na pessoa de S. Pedro, o pleno poder de apascentar, reger e governar a Igreja¨. 1836. Com o fim de satisfazer a este múnus pastoral, os nossos predecessores empregaram sempre todos os esforços para propagar a salutar doutrina de Cristo entre todos os povos da Terra, vigiando com igual solicitude que, onde fosse recebida, se guardasse pura e sem alteração. Pelo que os bispos de todo o mundo, quer em particular, quer reunidos em sínodos, seguindo o velho costume e a antiga regra da Igreja, têm referido a esta Sé Apostólica os perigos que surgiam, principalmente em assuntos de fé, a fim de que os danos da fé se ressarcissem aí, onde a fé não pode sofrer quebra. E os Pontífices Romanos, conforme lhes aconselhavam a condição dos tempos e as circunstâncias, ora convocando Concílios Ecumênicos, ora auscultando a opinião de toda a Igreja dispersa pelo mundo, ora por sínodos particulares ou empregando outros meios, que a Divina Providência lhes proporcionava, têm definido como verdade de fé [tudo] aquilo que, com o auxílio de Deus, reconheceram ser conforme com a Sagrada Escritura e as tradições apostólicas. Pois o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de S. Pedro para que estes, sob a revelação do mesmo, pregassem uma nova doutrina, mas para que, com a sua assistência, conservassem santamente e expusessem fielmente o depósito da fé, ou seja, a revelação herdada dos Apóstolos. E esta doutrina dos Apóstolos abraçaram-na todos os veneráveis Santos Padres, veneraram-na e seguiram-na todos os santos doutores ortodoxos, firmemente convencidos de que esta cátedra de S. Pedro sempre permaneceu imune de todo o erro, segundo a promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo feita ao príncipe dos Apóstolos: Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos [Lc 22, 32]. 1837. Foi, portanto, este Dom da verdade e da fé, que nunca falece, concedido divinamente a Pedro e aos seus sucessores nesta cátedra, a fim de que cumprissem seu sublime encargo para a salvação de todos, para que assim todo o rebanho de Cristo, afastado por eles do venenoso engodo do erro, fosse nutrido com o pábulo da doutrina celeste, para que assim, removida toda ocasião de cisma, e apoiada no seu fundamento, se conservasse unida a Igreja Universal, firme e inexpugnável contra as portas do inferno. 1838. Mas, como nestes nossos tempos, em que mais do que nunca se precisa da salutífera eficácia do ministério apostólico, muitos há que combatem esta autoridade, julgamos absolutamente necessário afirmar solenemente esta prerrogativa que o Filho Unigênito de Deus dignou-se ajuntar ao supremo ofício pastoral. 1839. Por isso Nós, apegando-nos à Tradição recebida desde o início da fé cristã, para a glória de Deus, nosso Salvador, para exaltação da religião católica, e para a salvação dos povos cristãos, com a aprovação do Sagrado Concílio, ensinamos e definimos como dogma divinamente revelado que o Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho do ministério de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral para toda a Igreja, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual Cristo quis munir a sua Igreja quando define alguma doutrina sobre a fé e a moral; e que, portanto, tais declarações do Romano Pontífice são por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis. 1840. [Cânon]: Se, porém, alguém ousar contrariar esta nossa definição, o que Deus não permita, - seja excomungado. Imprimatur por comissão especial do Exmo. e Revmo. Sr. Dr. Manuel Pedro da Cunha Cintra, bispo de Petrópolis. Frei Desidério Kalverkamp, O. F. M. Petrópolis, 9-1-1959 Esta tradução de Frei Guilherme Baraúna, O. F. M., foi feita diretamente do Enchiridion Symbolorum de Denzinger-Banwart-Umberg (24º edição), da qual conservamos também a numeração marginal. http://www.universocatolico.com.br/index.php?/concilio-vaticano-i-1869-1870.html